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sábado, novembro 19, 2011

A ressaca dos boêmios de Villa Crespo

Antes de começar este texto, dei uma lida em outro relato que fiz, em 2008, de um jogo do Gauchão entre Veranópolis e Guarany de Bagé (ver aqui). Não queria me repetir ao escrever um questionamento sobre o jogo da Primera B Nacional argentina (a 2ª divisão de lá) entre Atlanta e Almirante Brown, que acompanhei no estádio Don León Kolbovsky na tarde do dia 13 de novembro.

Nestas oportunidades nas quais pude assistir jogos de clubes com menor tradição no futebol, sempre fico com a mesma pergunta. O que leva tanta gente a um estádio para cantar e apoiar seu time, mesmo sem ter muitas perspectivas? Quando você torce para clubes como Grêmio, Inter, Boca, River, enfim, equipes que já têm grandes títulos em seu histórico e são cobrados para obter outros tantos, até se explica. Mas e o contrário?

Domingo não foi diferente. O que motivou quase cinco mil pessoas a dedicarem duas horas de seu tempo (mais o tempo de deslocamento) para ir a cancha da rua Humboldt em Villa Crespo, bairro de Buenos Aires, para torcer por um clube que hoje jogaria um playoff que definiria seu rebaixamento ou não para a terceira divisão?


Aí é que está a questão. Torcer para Grêmio, Inter, Boca ou River é fácil, milhares fazem. Mas aquele torcedor do Atlanta que saiu de casa com sua camisa azul e amarela, levando o filho, sofreu com o jogo ruim do domingo e ainda assim cantou o tempo inteiro, ah, esse sim, esse é um apaixonado pelo futebol.

Aliás, a resposta para a minha questão está na última parte da música que a torcida de “Los Bohemios” (como o clube é conhecido) cantaram no início da partida:

Yo lo sigo a Atlanta, de la cabeza
juegués donde juegues, la banda te alienta.
Vamos los bohemios... Vos sos mi vida!
Estar a tu lado... es una alegría.
¿Qué voy a hacer?¿Qué voy a hacer?
Si te llevo en mi piel,
¿Qué voy a hacer? ¿Qué voy a hacer?
Esta locura no la van a entender


É, não é para se entender. Ainda mais com o que aconteceu durante os 90 minutos de jogo.


“¡Sos horrible! ¡Sos horrible!”

O jogo foi muito fraco. Tanto Atlanta como Almirante Brown erraram demais. Passes, domínio de bola e, principalmente, tiros a gol.


Um jogador, no entanto, se destacou nesse ponto. O camisa 9 dos Bohemios, Andrés Soriano. Típico delantero argentino: cabeludo com fitinha na cabeça. Foi uma das piores partidas que já vi de um centroavante. Não acertava um domínio, perdia a bola fácil, perdia o tempo nos cruzamentos...

A torcida não perdoava as falhas. Atrás de mim, um torcedor se desesperava a cada erro de seu atacante. “Una Soriano, por favor! Ganá una sola, che!” Novos erros, novo desespero. “Sos horrible, Soriano! Sos horrible!”

Agora, imaginem. Se esse era o titular, como seria o reserva dele? Pois quase no final do jogo o técnico do Atlanta chama do banco o camisa 18. Atacante também, só pelos cabelos longos e a fitinha na cabeça. Na hora de anunciar a alteração, a rádio do estádio informou: “Cambio nel equipo de Atlanta. Sale Juan Galeano y adentra a la cancha Abel Soriano!”

Sim. A alternativa que o Atlanta tem para o Andrés Soriano é seu irmão gêmeo, Abel. Pode ser que não sejam ruins, o Soriano titular até é ídolo no clube. Só não estavam em um dia bom. Na temporada passada, ambos ajudaram os Bohemios a ter o melhor ataque da terceira divisão. Andrés marcou 17 gols e Abel, 16. As coincidências não param por aí. No total, na carreira, o titular já marcou 48 gols. O reserva, 47.


Mas no domingo não teve jeito. O máximo que a equipe de Villa Crespo chegou foi a uma bola na trave. Não adiantou nem o pedido da torcida por mais colhões.

Ôôôô, vamos Atlanta, vamos
Ôôôô, vamos Atlanta, vamos
Pongan huevos, que ganamos


Um dos poucos que se salvou do clube no jogo foi o goleiro Diego Pellegrino, 25 anos. É o único do time que tem seu nome estampado na camiseta e fui um dos mais aplaudidos antes do jogo, além de ter seu nome gritado pela torcida no final pelas boas defesas que fez. Mas, como quase todos goleiros argentinos, dificilmente faz defesas em um tempo. Só no domingo deu dois rebotes para o centro da área que, se os atacantes adversários fossem um pouquinho melhores, teriam passado a régua na disputa.

Assim, a partida não podia ter terminado com outro resultado que não fosse o empate em 0x0. Os torcedores deixaram o estádio decepcionados, uma ressaca para Los Bohemios que, recentemente, tanto comemoraram a subida da terceira divisão para a B Nacional.

Agora, o clube continuava próximo do rebaixamento e havia perdido pontos em casa. Nada que desmotive aos cinco mil a cumprirem a promessa que cantaram e retornarem a rua Humboldt na próxima vez que o Atlanta jogar ali.


Jugaron en HD

No dia seguinte, o texto do jornal Olé sobre a partida resumiu bem o que foram os 90 minutos. “Jugaran en HD: Atlanta y Almirante empataron porque el problema lo tuvieron em las dos áreas: horrible definición.”


Sol na cara

O estádio Don León Kolbovsky é curioso. A arquibancada central e a que está atrás do gol (onde fica a popular), são viradas para o sol. Ou seja, todo mundo fica o jogo inteiro com aquela luz na cara.

O lado oposto, que não pegaria sol de frente, não é utilizado. Um pavilhão atrás do gol está em finalização e será destinado à torcida adversária e, na lateral do campo, há um terreno baldio que costeia os trilhos da linha General San Martín. Aliás, pelo menos duas bolas foram parar no caminho dos trens.

segunda-feira, julho 05, 2010

Teoria do maneta, por Juremir Machado

Vou tomar a liberdade de reproduzir o texto do professor Juremir Machado da Silva publicado no Correio do Povo do primeiro dia deste julho. A época de Copa do Mundo fez até ele se desligar um pouco de temas políticos e se dedicar ao tema esportivo, desta vez falando até de rugby. Boa leitura.

Teoria do maneta, por Juremir Machado da Silva
Publicado no Correio do Povo em 01/07/2010

Há tese e teorias para tudo. Ainda bem. O sal da vida é ter uma tese todos os dias para defender. Ou para atacar. Em tempos de Copa do Mundo, aparecem muitas teses sobre futebol. Há quem diga que os grandes jogadores de futebol são gênios. Pode ser. O personagem do grande romance de Robert Musil, "O Homem Sem Qualidade", desiludiu-se quando ouviu chamarem um cavalo de genial. Pior mesmo é ouvirmos cavalos chamando alguém de medíocre. Como está provado, existem muitos tipos de inteligência: espacial, musical, emocional, matemática. Um grande meio-campista de Grêmio e Internacional não conseguia achar o caminho de casa ao volante do seu carro. Mandava um táxi seguir na frente. Genial. Inteligência é saber encontrar soluções para problemas.

Outro dia, em Paris, num restaurante, ouvi uma tese sobre a diferença entre jogadores de rúgbi e jogadores de futebol. Espichei o ouvido. Eu sempre achei o rúgbi um esporte primitivo, praticado por brutamontes, típico de países de língua inglesa e de ingleses com a língua de fora para raciocinar. Tomei conhecimento de uma perspectiva muito diferente. Os jogadores de rúgbi seriam muito mais inteligentes e completos. Segundo o defensor dessa tese, um professor de cabelos brancos, a explicação para isso tem base na neurociência. Tem a ver com a prática de atividades que afetam o desenvolvimento do cérebro. Melhor dizendo, tem a ver, em certos casos, com a ausência ou a prática prolongada de atividades que acarretam a atrofia ou o desenvolvimento de cérebro.

O professor em questão lembrou que o homem tornou-se homem ao equilibrar-se sobre os pés, adotar a postura ereta e liberar as mãos para atividades infinitas, inclusive fazer gols ilegais em Copas do Mundo de futebol. Aí está: os jogadores de rúgbi seriam mais inteligentes por usarem na sua atividade mais importante e permanente, o jogo, os pés e as mãos, o que provocaria o uso da integralidade do cérebro e o manteria, digamos, atualizado e eficiente. Já os jogadores de futebol, proibidos de usarem as mãos, teriam parte do cérebro atrofiada, o que resultaria, ao longo do tempo, em sérias dificuldades de expressão e na incapacidade de resistir ao assédio de procuradores, empresários, vendedores de bugigangas tecnológicas, amigos e marias chuteiras.

Fiquei atônito. Cometi uma ousadia. Meti-me na conversa da mesa alheia, a menos de 1 centímetro da nossa, como são as mesas de restaurantes na França. Perguntei ao mestre o que pensava de Dunga. O sujeito, cujo nome não guardei, de origem romena, acho, foi categórico: "É um caso típico de evolução improvável da espécie. Apesar de ter sido certamente afetado pela prolongada ausência de uso das mãos, o que afetou a sua capacidade de comunicação, ele soube se adaptar ao meio e tem tudo para ser vencedor. Se tivesse sido jogador de rúgbi, seria um gênio e não teria problemas com a mídia". Fiquei pensando se o rúgbi poderia salvar o Valter. Ou, caso mais urgente, "hominizar" o Felipe Melo. É uma tese. Como nunca conversei com um jogador de rúgbi, não sei.

quinta-feira, junho 03, 2010

Fecha que depois te explico

Escutei esse tango numa noite dessas, ouvindo a 2x4 (www.la2x4.gov.ar), rádio pública da cidade de Buenos Aires que só toca o principal gênero musical argentino. "Cerra que despues te explico" é a união de quatro histórias, fechando com uma moral, dentro de uma mesma canção, composta por Horacio Ferrer. O caso "O Sócio", levou o autor a criar os demais. Um fino sarcasmo para retratar aqueles momentos em que não há como explicar a situação.

"Cerra que despues te explico" (Fecha que depois te explico)

A fuga
Quando Fuentes no presídio
a toda um túnel cavava
Dermidio, que vigiava
desde cima, de repente,
foi cercado por bufosos
E Fuentes, lá no poço
ria dando o aviso
"Já está aberto, Dermidio!"
E este gritava "Fecha, fecha que depois te explico"

A viúva
Angustiada como no purgatório
a seu marido perdeu
e um qualquer a avisou
"Está em seu próprio velório"
Foi a viúva e quando abriu
o caixão gritou: "Libório!"
"Que faz essa loira contigo,
nesse espaço tão apertado?"
E o morto a respondeu:
"Fecha, fecha que depois te explico"

O funcionário
Morreu em um ministério
o funcionário modelo
que jamais chegou a ser rico
porque roubando era um tipo muito sério
E quando esse tipo de quem falo
abriu as portas do Céu
assinando sua passagem ao diabo
viu Deus e se queixou
"Que eu fiz?", e Ele disse:
"Fecha, fecha que depois te explico"

O sócio
Quico voltou a seu escritório
em uma hora tão incomum
que ao abrir com a mão leve
a porta encontrou seu sócio, Parrada
gastando o ócio com outro
(em situação muito delicada), e disse Quico:
"Que está fazendo, Parrada?"
E Parrada disse:
"Nada, fecha, fecha que depois te explico"

Moral
A curiosidade humana
Empurra e abre as portas
Mas outras estão abertas
Por pura fatalidade
E toda prudência é pouca
buscando a moral
porque toda a porta aconselha
à moral que aplico
dizendo à minha própria boca
"Fecha, fecha que depois te explico"

quinta-feira, abril 22, 2010

15 minutos na Argentina

Estou de férias neste mês de abril. Foi o único meio para conseguir um feriado (Páscoa) e poder visitar os pais da Tassi. Como a casa deles é próxima da fronteira com a Argentina, dedicamos o sábado para atravessar o rio Uruguai e visitar a pequena Colonia Aurora, no país vizinho.

Na canoa, atravessando o rio

Fui alertado que a cidade da província de Misiones, com cerca de 2 mil habitantes, não tinha muitos atrativos. Mas certamente nos bolichos locais encontraríamos algumas galletas e dulce de leche. Já seria suficiente. Entretanto, tínhamos que voltar pela manhã, para não perder o almoço previsto para aquele dia: um costelão na brasa.

O cenário da travessia.

Chegamos à beira do rio às 9h para fazer a travessia. Um pouco tarde, descobríamos ao chegar do outro lado. Na aduana lá (uma pequena casa de madeira), um papel na parede avisava que, aos sábados, o gendarme (policial) ficava das 8h às 10h. Ou seja, tínhamos apenas uma hora. Na verdade, menos. Enquanto meu relógio marcava 9h05, no do policial estava 9h23.

Marco na aduana do país vizinho

Como Colonia Aurora fica a 3 km do rio, precisávamos ainda de transporte até lá. Mas a caminhonete havia saído enquanto fazíamos os trâmites de entrada no país: preencher um caderno com nosso nome, endereço, idade e profissão. Como o carro não voltava, começamos a caminhar.

A estrada rumo a Aurora.

Mas não daria tempo. Calculamos que eram umas 9h40 pelo relógio da aduana e decidimos voltar. Mesmo que tentássemos sair do país sem dar baixa, não teríamos canoa para a travessia: eles também paravam de trabalhar às 10h.

Terras brasileiras do outro lado do rio. Era para onde estávamos voltando.

E assim, para a surpresa do gendarme, chegamos a aduana para sair, 15 minutos depois de entrar no país.

sexta-feira, abril 16, 2010

Novo blog: Aviação Comercial

Muito tempo sem atualizar o Parcialidade Total, mas hoje volto com novidades. Uma noite dessas surgiu a ideia de escrever sobre aviação comercial, ou seja, esses aviões que levam passageiros para todos os lados. Acabei me obrigando a levantar e fazer a conta no Wordpress mas resolvi criar um domínio próprio para o novo blog: aviacaocomercial.net.


Graças a ajuda do Piero Barcellos, com preciosas dicas sobre registro do domínio e hospedagem para o site, o blog Aviação Comercial já está no ar no domínio definitivo. O template ainda não está finalizado, mas já é possível encontrar ali informações, curiosidades e notícias sobre aviação comercial.

Ah, e tem perfil no twitter também: twitter.com/aviacaocom.

Caso o leitor goste do tema, acesse. Se quiser colaborar ou dar alguma sugestão, é só mandar. E críticas, claro, também serão aceitas.