.....................

quarta-feira, março 26, 2008

“Você perdeu os bons tempos”

Porto Alegre comemora nesta quarta, dia 26, os 236 anos da sua fundação. Para comemorar, uma exposição foi montada em frente à Prefeitura com fotos da cidade nos últimos sessenta anos e as mudanças que aconteceram.

Como cheguei cedo ao Centro hoje, antes de ir trabalhar aproveitei para passar ali e dar uma olhada nas imagens e lamentar.

Ficar triste ao ver fotos de bondes e ônibus na Praça XV, no lugar dos camelôs e mendigos de hoje. Ou então a quantidade de lojas e cafés numa rua Uruguai onde, nesta noite, não se podia passar pela insegurança e pelo monte de bêbados caindo dos botecos entre o fedor de mijo e pão-de-queijo.

E certamente irritar-se com a incompetência dos muitos administradores públicos que deixaram a cidade passar de 350 mil habitantes para 1,5 milhão em seis décadas e não foram capazes de fazer um planejamento que acompanhasse um pouco que fosse esse crescimento.

Pior ainda. Permitiram que se botassem abaixo quase todos os casarios antigos da cidade, não sendo possível, hoje, encontrar a velha Porto Alegre. Matamos a nossa história em troca de arranha-céus comerciais!

O fotográfo Léo Guerreiro em frente a um dos painéis da mostra (Foto: Ivo Gonçalves/PMPA)

Mas o legal da mostra é a concentração de velhinhos entre os painéis dos anos 50, 60 e 70, quase como mediadores da mostra. Dali para diante, eles não querem nem saber, num sinal das besteiras que se fizeram nesses últimos tempos aqui.

Foi na frente de uma foto de um antigo terminal de ônibus (onde hoje está o Largo Glênio Peres) que um desses senhores puxou assunto.

- Tá vendo, guri, não tinha nada dessa gente gritando ou pulando ali (apontando para o largo), nem esses camelôs. A gente pegava os bondes, você sentava, abria seu jornal e ia lendo tranqüilo. Caminhávamos nesse centro a qualquer hora, sem problemas. Mas hoje só tem vagabundo aqui. Ninguém mais tem educação, esse é o problema. Mas, mesmo assim, quero ficar nessa cidade. Nem que tenha que ir para debaixo de uma ponte, mas de Porto Alegre ninguém me tira. Um sobrinho meu que mora em Brasília se casou e me convidou para ir até lá. Não fui. Disse para ele que podia me dar um treco e eu não queria ficar por lá. Nasci aqui e quero morrer e ser enterrado em Porto Alegre. Mas, guri, quantos anos você tem?

- 24.

- Bah, você perdeu os bons tempos, guri.

É ruim ter que escutar isso. Afinal, a cidade tem 236 anos e você tem que viver aqui justamente quando o tempo legal passou. Mas eu já tinha noção do que ele estava falando.

Entretanto, como por enquanto não há alternativas, parabéns Porto Alegre. Mas vamos tratar de melhorar para que, ao chegar aos 250 anos, possamos dizer que os tempos melhoraram. Algumas sugestões de um dos teus cidadãos: retorno dos terminais de ônibus à Praça XV e ao Largo Glênio Peres, tirando aquele movimento absurdo da Salgado Filho e da Borges; construção de uma estação de ônibus naquele amplo canteiro do Xis da Rodoviária, onde hoje só tem vagabundos; a implantação do metrô; e a revitalização do Cais do Porto.

Ponto Final

Dois sites possuem uma riqueza impressionante de imagens antigas de Porto Alegre para os saudosistas ou aqueles que sentem saudade de um tempo que nem presenciaram.

O Tramz (http://www.tramz.com/br/pa/pap.html) tem uma pesquisa de Allen Morrison sobre a evolução dos bondes na capital. As fotos coloridas parecem atuais.

Mas num âmbito mais geral, o Fotos Antigas (http://fotosantigas.prati.com.br/FotosAntigas/), da família Prati, é demais. Com uma divisão por décadas, têm uma quantidade incrível de imagens que resgatam nossa história, uma vez que, fisicamente, muitas coisas já não existem.

Nenhum comentário: