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quinta-feira, fevereiro 19, 2009

No banco da praça


(Caos Calmo, Itália, direção de Antonio Luigi Grimaldi)

Onde achar tranquilidade quando sua vida se transforma totalmente com a repentina morte de sua esposa e a responsabilidade de criar uma filha? Em "Caos Calmo", Pietro Paladini (interpretado por Nanni Moretti) encontra essa paz em meio a uma pequena praça em frente ao colégio da sua bambina. O filme, adaptação do livro homônimo de Sandro Veronesi, é mais um a fazer crítica ao sistema de trabalho ao qual nos submetemos, ou seja, de dedicação total às nossas funções como forma de mostrar empenho e buscar reconhecimento, enquanto sair da empresa no horário é sinal de desleixo. A idéia de que funcionário bom é aquele que deixa o lado pessoal de canto.

Ocupado executivo de uma rede de televisão, Pietro sofre um grande choque ao encontrar a esposa morta na casa de praia da família. Assim que volta para a cidade, no primeiro dia de aula de sua filha, decide ficar na praça em frente ao colégio esperando. Transforma a praça em seu escritório, numa situação impensável para a vida real. Pietro vira uma espécie de conselheiro e a praça, um templo para suas orientações. Nos bancos, ele trabalha, conhece novas pessoas, faz amigos, reuniões com os colegas de trabalho e inclusive recebe o chefão da sua nova empresa (interpretado por Roman Polanski, em uma participação muito especial).


O contraste deixa a situação mais interessante. Enquanto ao seu redor o mundo parece cair, seja pelos transtornos da fusão de sua empresa com um grupo americano ou no tradicional caótico trânsito italiano, ele permanece calmo. E assim consegue pensar melhor em soluções para os problemas que se apresentam para ele. Me fez lembrar uma frase que usava no meu perfil do Orkut, dita pelo ex-piloto de Fórmula 1, Jean Alesi: "Quando sinto que vou ficar nervoso, respiro fundo e procuro manter a calma." O grande problema de adotar essa postura é que, com muita frequencia, ela é interpretada como incapacidade de ação e até desinteresse. O próprio filme mostra isso. A calma de Pietro e a reação tranquila da filha à morte da mãe são apontadas como se ambos nunca tivessem a amado. Mas não passava da forma que eles acharam para se defender de tão duro golpe.

Saí do cinema com esta pergunta: Será que precisa ser histérico para ser reconhecido como alguém atuante? O filme mostra que não. E a vida real, também. Só falta a maioria se dar conta disso.

Ponto final

Seguindo no tema Itália, fica aí o vídeo de "Rotolando verso sud" (algo como "Rodando pelo sul"), da banda Negrita. Parte das filmagens foram feitas no Brasil, no final de 2006. Sugestão enviada pela prima italiana Martina na carina Rovereto, no Trentino, onde hoje deve estar muito frio e embaixo de muita neve (que sorte a deles).

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