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segunda-feira, julho 30, 2007

“História do Jazz”, por Joachim-Ernst Berendt

Vou até o posfácio do livro para buscar uma definição sobre o jazz.

“O jazz (...) é muitas coisas ao mesmo tempo, e uma coisa diferente para cada pessoa.”

Complementando esta sentença, encontro uma afirmação de Fats Walter, pianista dos anos 20 e 30 no Harlem.

“O jazz não é o que você toca, mas a maneira como o toca.”

Pode até parecer que essas duas frases não definem, na verdade, nada. Mas elas resumem bem o que é essa música. É um estilo livre, pegar um instrumento e tocar aquilo que se sente, com liberdade para o improviso. Essa é a conclusão que se pode tirar da leitura de “História do Jazz”, uma coletânea de nove artigos sobre o tema, organizado por Joachim-Ernst Berendt.

Músico de rua em Montevidéu, foto por Piero Barcellos


Cada um destes textos procura definir as características dos estilos que marcaram o jazz, desde seu nascimento em Nova Orleans, passando pelo swing, o bebop, o cool e free jazz, sua relação com o blues, chegando a períodos recentes, com as influências do rock. Um belo acervo de registros fotográficos enriquece ainda mais a obra, complementando os artigos, escritos por especialistas europeus. Esta visão “de fora” contribui para compreender como o jazz, uma música considerada ao princípio popularesca, se difundiu e conquistou um grande público.

O próprio termo jazz teria origem em uma gíria dos negros americanos, segundo Berendt. “Jass” (assim mesmo, com dois esses) tinha uma conotação sexual. As cantoras de blues diziam: “Give me your jazz” ou “I don’t want your jazz”. Reimer von Essen, no artigo sobre as origens deste estilo, complementa:

“Se traduzirmos “jazz music” por “música para fornicar”, ficaremos bem perto do espírito com que era empregada essa palavra na época.”

Justamente para contradizer aqueles que usando esse termo pretendiam difamar as novas bandas que surgiam que elas adotaram a expressão em seus nomes.


Antes de chegar aos grandes teatros, estes músicos tocaram em locais não muito seguros. Antes de conhecerem grandes artistas e chefes de estado, tiveram contato com pessoas cuja conduta não era tão nobre. Como destaca Werner Burkhardt no texto sobre o jazz de Chicago:

“(...) mais importante são as reminiscências dos músicos dessa época alucinada referentes à atmosfera delirante em que trabalhavam: Al Capone e seus asseclas, as gangues que se exterminavam mutuamente. A vida de um músico era, então, bem mais perigosa do que hoje.”

E segue com o depoimento do baterista George Wettling:

“A gente tinha de ficar sempre à espreita do momento em que eles esboçassem o gesto de sacar a arma, do contrário não dava mais tempo para se esconder. Uma noite, no Triangle Club, o proprietário levou uma bala no estômago e nós, apesar disso, continuamos a tocar como nada tivesse acontecido.”


Estava pensando: se este estilo era tão mal visto no início, tido até como vulgar, e hoje tem outra concepção, isso não poderá acontecer, por exemplo, com o funk carioca em alguns anos?

Seguramente a resposta é não. O que o funk carioca faz é a reprodução infinita de um modelo com fins comerciais, que pode até dar retorno, mas logo cansa. O jazz é diferente, tem um tripé como base, formado pelo swing, o fraseado e a improvisação. Por isso, é difícil repetir um tema de jazz, cada vez que é “atacado” terá um resultado diferente, praticamente uma música nova, graças à qualidade dos músicos, capazes de quebrar normas musicais ao tocarem seus instrumentos.


“Take the A train”, de Billy Strayhorn, interpretado pela orquestra de Duke Ellington


Ponto final

Para quem não tem muitos conhecimentos sobre teoria da música, o único problema da leitura de “História do Jazz” são os termos técnicos que ocupam grande parte dos textos sobre cada estilo. Faz falta um CD com exemplos de clássicos de cada uma destas épocas, mas tentei me virar com aquilo que tenho em casa.

No mais, comprei este livro num sebo aqui do centro. Comprar livros usados podem resultar em surpresas. Uma vez ganhei um marcador de páginas. Agora encontrei um folheto com a programação da Feira do Livro de Rio Grande de 1994. Nele, estão marcadas todas as sessões de autógrafos e duas das atividades paralelas, com um nome escrito na capa: Jovil.

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