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sábado, janeiro 26, 2008

Uma partida de Gauchão

Qualquer torcedor de Grêmio ou Internacional sabe que o Campeonato Gaúcho de futebol é dureza. Fatores como condições do campo, pressão da torcida e a virilidade nas disputas fazem desaparecer as diferenças de qualidade entre as equipes nas partidas no interior do estado.

Isso qualquer torcedor vê porque a televisão transmite o jogo. Mas e nas disputas que não passam ao vivo na telinha?

Para responder a pergunta, o Parcialidade Total acompanhou neste domingo, dia 20, a partida entre Veranópolis e Guarany de Bagé no Estádio Municipal Antônio David Farina, em Veranópolis. Antes do pontapé inicial do confronto, válido pela primeira rodada do Gauchão 2008, muita coisa aconteceu.

O Estádio Antonio David Farina, do Veranópolis

A véspera

Em frente ao hotel no centro da cidade, jogadores e dirigentes do Guarany esperavam na tarde de sábado para sair ao treino. "Estamos com todos os quartos ocupados graças ao campeonato", disse, alegre, um dos funcionários do local. O fato é raro para a época, e demonstra a importância que tem o torneio para ajudar na economia das cidades com equipes no certame.

A cidade em pleno verão brasileiro

Além do hotel, os restaurantes também lucram. Uma delegação tem, no minímo, 40 pessoas entre jogadores e dirigentes, sem contar corajosos torcedores que atravessam o estado para dar uma força à equipe. Enquanto os jogadores locais comiam no clube da cidade, os visitantes almoçaram no domingo a meia quadra dali sob o olhar curioso dos moradores da cidade. "Quem são aqueles ali?", se perguntavam na praça. Apesar da rivalidade, o clima é de respeito e civilidade. Entretanto, isso só vale fora do campo. No estádio, a história é outra.

Pro campo

Conforme o horário do início da partida ia se aproximando, aumentava o movimento às margens da RST 470, onde está o estádio Antônio David Farina, no qual o Veranópolis manda suas partidas. Como a cidade está de um lado da estrada e o campo do outro, foi necessária a intervenção da Polícia Rodoviária para segurar o trânsito e permitir a travessia dos pedestres.

Com camisas do time (ou de qualquer outra equipe de futebol) e bandeiras com as cinco cores do clube, os torcedores vão tomando os espaços da arquibanca, construídas sobre o barranco de um dos morros. Atrás de um dos gols, um pequeno grupo forma uma torcida organizada, cantando a todo momento, pouco se importando se os gritos de "Vamô, vamô VEC (Veranópolis Esporte Clube)" não sejam tão originais.

A Geral, ou Popular, do Pentacolor

Além disso, fora do estádio, a copa de uma árvore foi cortada e servia de lugar para algumas pessoas. "Um abraço para o pessoal da árvore, sempre presente nos jogos do VEC", se ouviu de um dos radialistas locais. Nas casas ao redor, as pessoas também subiam sobre os muros ou telhados para ver a partida.

A galera da árvore é presença garantida em todos jogos

De repente, entram dois torcedores com a camisa alvirubra do Guarany de Bagé. Nada de vaias, gritos ou provocações. Eles seguiram tranquilamente e se colocaram junto a outros 20 bageenses que estavam na tribuna no outro lado do campo.

Xingamentos apenas para um torcedor do time local que apareceu com uma camisa do Necaxa, do México, que é praticamente igual a do time adversário. "Ô seu burro, não tá vendo que essa camisa é igual a do Guarany?", se ouviu, em tom de brincadeira, o grito vindo das cadeiras. "O Sotilli me deu e pediu para eu vir no jogo com ela", argumentou o desavisado. De fato pode ter sido um chiste do jogador citado, Sandro Sotilli, que jogou na equipe mexicana e, neste ano, foi contratado pelo VEC.

Outros que também ouviram poucas e boas foram, obviamente, os árbitros. Mas isso já é o esperado, assim como os aplausos para a entrada do Veranópolis e as vaias para os adversários.

A surpresa foi a presença das rainhas da Femaçã (Festa da Maçã) que deram o pontapé inicial da partida. Apenas para as fotos, pois a peleia começou mesmo depois que elas estavam do outro lado do alambrado, com as canelas finas bem protegidas.

Bola rolando


A partida e o campeonato não começaram do melhor modo para os locais. Aos 13 minutos, numa cobrança de falta distante da área, a bola bateu na barreira e parou nos pés do jogador do Guarany que, sozinho dentro da área, não teve dificuldades para abrir o marcador.

Uma desatenção incrível da zaga, mas que era um reflexo do time inteiro. Os onze pareciam estar perdidos. "Fininho, sobe meu filho, sai da meia, vem aqui pro lado, que é o teu lugar!", gritava uma torcedora para o lateral. O detalhe é que, ao mesmo tempo, ela estava amamentando a filha.

Como a distância da arquibancada para o campo é de cerca de um metro, da platéia podia se ouvir muito bem o que se falava no campo e vice-versa. "Levanta! Jogando, jogando!", gritou o árbitro para um jogador que teria se atirado para cavar uma falta.

Em cima do campo, dá pra ouvir até o barulho que as chuteiras fazem na grama

Mas uma marcação do bandeirinha considerada equivocada fez um torcedor se levantar, descer os degraus e parar logo atrás do auxiliar. "Tá cego, FDP? Olha direito essa m****!", esbravejou antes de voltar de cara fechada para seu lugar. O xingado fez que nem ouviu.

Infelizmente nesse momento começaram a se ouvir alguns insultos racistas contra o bandeirinha. Duas ou três pessoas, mas sempre é algo inaceitável e estragou a bonita festa que estava se vendo até aquele momento. Mas, a partir disso, parece que ele começou a errar algumas marcações de propósito.

Após algumas faltas bem duras, canelaços, um princípio de briga e duas bolas chutadas para fora do estádio em lances "normais", terminou o primeiro tempo.

A volta

A entrada do jovem Kito mudou a equipe do VEC no segundo tempo. Numa falta sofrida por ele, logo no começo do segundo tempo, a bola foi alçada na área e Miro empatou o jogo. Como ainda considerava um bom resultado, o Guarany continuou com a tática de segurar a partida para levar um ponto para Bagé, cavando faltas, demorando para repôr a bola em jogo. Isso ia irritando a torcida. "mas esse goleiro é um fresco mesmo! Tá só fazendo tempo a moça! Vamos ter que virar isso logo", gritou um torcedor. E não demorou muito para o centroavante Lima, sumido até então, colocar a bola pra dentro. "Faz cera agora, viado!", pode-se ouvir bem claro atrás do gol.


O gol de Miro empatou o jogo e abriu a porteira de um grande segundo tempo

A movimentação do time local melhorou muito na parte final e envolveu a equipe visitante. Não demorou muito para sair o terceiro gol, marcado merecidamente por Kito."Guri, tu é o cara", bradou um, enquanto o jovem jogador retribuía acenando à platéia, que já gritava olé. Isso irritou os adversários e resultou em um cartão amarelo para o zagueiro Darzone.

O caso Darzone e o fim

Este jogador é um caso a parte no futebol gaúcho. Ele era atacante do Santo Ângelo em 1999 e agrediu covardemente com um soco Régis, zagueiro do Caxias, que sofreu um traumatismo craniano, sobreviveu, mas nunca mais pôde jogar profissionalmente. Só a partir de 13 de março do ano passado que o jogador começou a cumprir a pena de dois anos e dois meses, por agressão, mas já está em condicional. Entretanto, dentro de campo os torcedores não perdoam. Cada vez que Darzone tocava na bola, ouvia todo tipo de insulto. "Assassino", "Bandido", "Volta pra cadeia, animal", "Vai jogar lá em Caxias pra ver se não te matam, seu FDP", eram os mais leves.

Não sei se foi conseqüência de tanto palavrão que o levou a cometer um penâlti infantil aos 45 minutos do segundo tempo, o que determinou a sua expulsão. Na cobrança, Lima deu um susto na torcida mas sacramentou a goleada de 4x1 e o encerramento de uma bela tarde de futebol na Terra da Longevidade. Longe, aliás, é o onde a torcida espera que o time chegue nesse campeonato, assim como no ano passado, quando eliminou o Inter, então campeão mundial, na primeira fase, e encerrou em terceiro lugar no certame, desclassificado em uma injusta semifinal, cheia de erros de arbitragem. Ou seja, em outra típica partida de Gauchão.


O último gol da partida, no último lance. Por pouco...

Formatura sem funk, hip-hop ou pagode...

...eu fui. Por incrível que pareça, o fato ocorreu. Foi na cerimônia de conclusão do curso de Administração da sede de Nova Prata da Universidade de Caxias do Sul. Predominaram as clássicas do rock, músicas gauchescas e sertanejas e um que outro samba ou dance. Parabéns aos formandos!

Um comentário:

Unknown disse...

PARABÉNS PELA EXCELENTE MATÉRIA, JÁ TINHAMOS VISTO ELA VÁRIAS VEZES E DESTA VEZ ESTAMOS DEIXANDO UM RECADO. FORTE ABRAÇO E MUITO SUCESSO!