Pão-duro, tipo exportação
Qualquer dia ainda faço uma viagem com toda comodidade. Ficar num hotel, pegar táxi para cima e para baixo, comer nos restaurantes indicados nos guias de turismo.
Pensando melhor, acho que não. Faltariam histórias para contar. Como esta, das últimas férias em Buenos Aires.
Noite de sexta. Havia conhecido um pessoal de Minas Gerais e estávamos nos preparando para sair. A sugestão do albergue era a Sunset Disco, boliche em Olivos, região norte da capital. Compramos o ingresso no hostel mesmo, com direito ao transporte de ida até o local, bastante distante do centro. Para a volta, nos informaram que o metrô funcionava a partir das 5h30.
Saímos à 1h da manhã (as festas em BsAs começam por volta das 2h) e cerca de 20 minutos depois de sair, chegamos ao local. Chuviscava e, pelo esquema do pessoal que nos levou, não precisamos ficar na longa fila.
Gostei do lugar. Dois amplos salões, um para música eletrônica e outro para ritmos latinos (cumbia, reggaeton, salsa e até axé music). Havia também um espaço externo, o qual não pode ser utilizado por causa da chuva. Alguns até tentaram ir lá e caíram belos tombos.
Eram quase 5h30 quando decidimos ir embora. Estávamos em quatro mas não queríamos pegar táxi para voltar. Até hoje não sei porquê, pois dividindo o custo não sairia tão caro.
Perguntamos pelo metrô, chamado de Subte por lá, mas nos disseram que não havia nenhuma estação próxima. Saímos xingando o pessoal do albergue pela informação furada.
Então caminhamos até a primeira parada de ônibus quando surgiu um problema. Para pegar um coletivo você precisa de moedas. Eu não tinha uma, tinha deixado todas as minhas no hostel, apenas uma boa quantia em papel, assim como um outro guri que estava junto. Mesmo assim conseguimos juntar os $ 3,20 necessários para as passagens.
Tentamos perguntar a algumas pessoas na parada qual linha nos deixaria mais perto do centro, mas o pessoal não respondia. A tradicional cordialidade portenha não funciona de madrugada. Entramos no primeiro ônibus e, na hora de pagar, surpresa. Como estávamos na região metropolitana, a passagem era mais cara. Decidimos descer no próximo ponto. Saí, um dos mineiros veio junto e, quando vimos, os outros dois (que tinham moedas) ficaram lá dentro e seguiram viagem.
A fome começou a bater e decidimos passar em um posto para comer algo e aproveitar para fazer troco. Na hora de pagar, a caixa diz não ter moedas, uma carência comum e grave da cidade. Continuamos sem comida e sem ter como voltar.
Quando voltamos rendidos para, enfim, pegar um táxi, vimos a duas quadras trilhos de trem. Na verdade, quando alguém te fala em metrô lá, quer dizer o trem metropolitano. Caminhamos pelos trilhos torcendo para chegar à estação antes que um trem viesse e conseguimos, pois era bem próxima.
Já eram 6h15 e fomos direto à bilheteria para comprar as passagens. Apesar de uma placa dizendo que estava aberta desde as 5h30, não havia sinal de gente ali. Um rapaz com o uniforme aparentemente da empresa de trens nos disse que poderíamos tirar o bilhete numa máquina que, obviamente, funcionava com as moedas que não tínhamos.
Ele nos deu outra solução. Embarcar igual e comprar a passagem na estação final, Retiro. Mesmo com medo de ser uma informação errada e encontrar um fiscal no meio do caminho, foi o que fizemos.
Enfim estávamos voltando, com um tímido sol batendo na lata, se sentindo meio clandestinos. Quando chegamos em Retiro, as catracas só liberam a saída se você colocar a passagem ali. Mas bem ao lado da plataforma de embarque havia um guichê de venda e uma fila. Não éramos os únicos sem passagem.
Na hora de pagar, perguntaram em qual estação havíamos embarcado. Subimos em Olivos, mas dissemos o nome da penúltima, Lisandro de la Torre, e assim salvamos uns poucos trocados. Saímos, pegamos o Subte e, duas horas após o início da jornada, finalmente estava na minha cama pronto para dormir.
Gosto muito de Buenos Aires mas, naquela noite, acabei conhecendo um pouco da hostilidade que alguns turistas relatam quando viajam para lá. Mas também tenho a minha parcela de culpa, claro, pelo “pão-durismo” e por ter esquecido as moedas numa cidade onde, sem elas, você não é nada.
Ah, e quase ia me esquecendo. Os outros dois guris de Minas que continuaram no ônibus, ao verem que havíamos descido, baixaram na parada seguinte também mas não nos encontraram. Não sei como voltaram, mas chegaram no hostel uma hora depois de nós.
Ponto final
Continua causando certo rebuliço os relatos do último post, “Confissão” (18/02). Minha namorada ainda não se conforma. Mas já consegui com um amigo um DVD e vamos assistir juntos numa próxima. eheheheh
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