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segunda-feira, julho 05, 2010

Teoria do maneta, por Juremir Machado

Vou tomar a liberdade de reproduzir o texto do professor Juremir Machado da Silva publicado no Correio do Povo do primeiro dia deste julho. A época de Copa do Mundo fez até ele se desligar um pouco de temas políticos e se dedicar ao tema esportivo, desta vez falando até de rugby. Boa leitura.

Teoria do maneta, por Juremir Machado da Silva
Publicado no Correio do Povo em 01/07/2010

Há tese e teorias para tudo. Ainda bem. O sal da vida é ter uma tese todos os dias para defender. Ou para atacar. Em tempos de Copa do Mundo, aparecem muitas teses sobre futebol. Há quem diga que os grandes jogadores de futebol são gênios. Pode ser. O personagem do grande romance de Robert Musil, "O Homem Sem Qualidade", desiludiu-se quando ouviu chamarem um cavalo de genial. Pior mesmo é ouvirmos cavalos chamando alguém de medíocre. Como está provado, existem muitos tipos de inteligência: espacial, musical, emocional, matemática. Um grande meio-campista de Grêmio e Internacional não conseguia achar o caminho de casa ao volante do seu carro. Mandava um táxi seguir na frente. Genial. Inteligência é saber encontrar soluções para problemas.

Outro dia, em Paris, num restaurante, ouvi uma tese sobre a diferença entre jogadores de rúgbi e jogadores de futebol. Espichei o ouvido. Eu sempre achei o rúgbi um esporte primitivo, praticado por brutamontes, típico de países de língua inglesa e de ingleses com a língua de fora para raciocinar. Tomei conhecimento de uma perspectiva muito diferente. Os jogadores de rúgbi seriam muito mais inteligentes e completos. Segundo o defensor dessa tese, um professor de cabelos brancos, a explicação para isso tem base na neurociência. Tem a ver com a prática de atividades que afetam o desenvolvimento do cérebro. Melhor dizendo, tem a ver, em certos casos, com a ausência ou a prática prolongada de atividades que acarretam a atrofia ou o desenvolvimento de cérebro.

O professor em questão lembrou que o homem tornou-se homem ao equilibrar-se sobre os pés, adotar a postura ereta e liberar as mãos para atividades infinitas, inclusive fazer gols ilegais em Copas do Mundo de futebol. Aí está: os jogadores de rúgbi seriam mais inteligentes por usarem na sua atividade mais importante e permanente, o jogo, os pés e as mãos, o que provocaria o uso da integralidade do cérebro e o manteria, digamos, atualizado e eficiente. Já os jogadores de futebol, proibidos de usarem as mãos, teriam parte do cérebro atrofiada, o que resultaria, ao longo do tempo, em sérias dificuldades de expressão e na incapacidade de resistir ao assédio de procuradores, empresários, vendedores de bugigangas tecnológicas, amigos e marias chuteiras.

Fiquei atônito. Cometi uma ousadia. Meti-me na conversa da mesa alheia, a menos de 1 centímetro da nossa, como são as mesas de restaurantes na França. Perguntei ao mestre o que pensava de Dunga. O sujeito, cujo nome não guardei, de origem romena, acho, foi categórico: "É um caso típico de evolução improvável da espécie. Apesar de ter sido certamente afetado pela prolongada ausência de uso das mãos, o que afetou a sua capacidade de comunicação, ele soube se adaptar ao meio e tem tudo para ser vencedor. Se tivesse sido jogador de rúgbi, seria um gênio e não teria problemas com a mídia". Fiquei pensando se o rúgbi poderia salvar o Valter. Ou, caso mais urgente, "hominizar" o Felipe Melo. É uma tese. Como nunca conversei com um jogador de rúgbi, não sei.

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