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quarta-feira, janeiro 09, 2008

Memórias de viagem 9
De Tigre a La Plata

Quem for a Buenos Aires e tiver um tempo sobrando, pode sair a explorar as cidades vizinhas. Em uma tarde, por exemplo, se pode visitar Tigre ou La Plata, duas opções muito boas de passeio para buscar algo diferente da capital.

Tigre é uma volta no tempo

Não fui sozinho quando decidi visitar Tigre, cidade de 31 mil habitantes distante 32 km de Buenos Aires. Estava acompanhado de Celina, uma alemã que havia ficado três meses no Equador e agora ia dar um giro por Argentina e Chile, e pelo argentino Matias, estudante de comércio exterior que adorava o Brasil ao ponto de já ter estudado um ano de português, ter feito aula de axé e gostar de pagode (apesar disso, é uma grande figura). Aproveitamos a primeira manhã sem chuva após três dias de muita água, ainda que o tempo estivesse bastante fechado.

Saindo da estação Retiro da linha C do metrô, subimos um andar e chegamos às plataformas da linha de trem da TBA que liga a capital e Tigre. Por 1,90 peso comprei a passagem de ida e volta e logo embarcamos, pois tínhamos pressa em voltar. Celina pegaria no início da tarde um ônibus para Mar del Plata.

Uma hora depois, após ter visto os contrastes dos subúrbios portenhos, chegamos ao fim da linha do passeio. O visual do pequeno porto fluvial e as casas antigas faziam parecer que aquele trajeto nos havia jogado para o passado.

Porto de Tigre e um curioso posto de combustíveis para embarcações


Saímos caminhando pelo Paseo Lavalle, que costeia o porto, observando o movimento de chegada e saída de catamarãs e barcos de turismo ou de passageiros recém-chegados do Uruguai, no outro lado do rio. E é pelo arborizado Paseo Victoria que se pode admirar parte do Delta do Rio Paraná, um dos principais atrativos turísticos da cidade. De um lado, a herança deixada na arquitetura das casas dos aristocratas portenhos que, no início do último século, tinham o local como destino nas férias de verão. Do outro, o rio (de águas turvas, é verdade), cortado por ilhas com muita natureza e diversos canais, que podem ser percorridos em passeios oferecidos no porto.

Paseo Victoria: as águas são turvas, mas ainda assim é uma bela paisagem.


No final desta rua está o Museu de Arte de Tigre. Só conseguimos confirmar ao se aproximar, pois para mim, de longe, parecia mais um cassino ou um hotel.

É um cassino? Um hotel? Uma igreja? A casa de um milionário refugiado na Argentina? Não, um museu...


Quando estávamos nos preparando para voltar pelo mesmo caminho, vimos uma placa que chamou a atenção: lancha-táxi. Como não teríamos tempo para fazer um dos passeios oferecidos no porto, decidimos fazer o trajeto de volta até a estação pelo rio. Mas desde já aviso que não foi muito barato e não valeu tanto assim.

Quando chegamos ao nosso destino, Celina e Matias foram um pouco adiante e eu fiquei ali na área de desembarque, parado. Naquele mesmo local, numa noite fria de julho de 2004, foi por onde entrei na Argentina na primeira viagem que fiz sozinho. Havia feito a travessia do Rio de la Plata apreciando o pôr-do-sol no meio desse rio-mar em um catamarã da Cacciola saído de Carmelo (Uruguai), numa opção mais barata (porém mais demorada) que a BuqueBus. Fiquei pensando em quantas mudanças aconteceram comigo em mais de três anos, tanta gente legal e lugares que havia conhecido graças à segurança dos primeiros passos dados ali. Mas logo tive de parar de observar e apressar o passo, pois os dois já estavam quase na estação.

Por causa da correria, não consegui visitar uma outra atração de Tigre, o Parque de la Costa. É um grande parque de diversões, sei lá, uma espécie de Beto Carrero argentino. Ele fica no fim da linha do Tren de la Costa, a forma mais turística de se chegar a Tigre saindo de Buenos Aires, com direito a paradas em centros comerciais no meio do caminho.

La Plata, um modelo de organização

Cheguei à avenida Pellegrini (via lateral à 9 de Julio, em direção ao norte) às 9h e vi uma placa indicando a parada do ônibus 129. Era esse que tinha que pegar para chegar ao meu destino, La Plata. Vem o primeiro, faço o sinal e o motorista simplesmente me ignora e passa reto. Poucos minutos depois, nova tentativa, e outro que nem parou. Acredito que o terceiro também não ia parar, mas teve que fazê-lo pois tinha gente para descer. Perguntei para o motorista se aquele ônibus ia até a cidade e ele apenas me apontou que eu deveria pegar na Cerrito, ou seja, do outro lado da rua. Enfim, ainda que à força, havia me norteado em Buenos Aires.

Nove e meia, atravessei a 9 de Julio e cheguei à parada certa. Para minha alegria, logo veio o ônibus. Tão logo chegou, passou. Fiquei com o dedo apontando para o vazio enquanto via o coletivo já bem longe. Achei que o cara não tinha percebido mas, quando o segundo não parou, comecei a pensar que tinha algo errado comigo. Estava na parada certa e do lado certo, mas não adiantou para que o terceiro parasse.

Às 10h fiz algo que deveria ter feito desde o início. Peguei o metrô até a estação Constituición, de onde também partiam ônibus para a cidade onde queria chegar. Na frente da antiga gare, encontrei um posto de venda de passagens e um fiscal da empresa. Questionei a ele o fato de três carros passarem sem parar. Ele simplesmente me respondeu que provavelmente estava lotado e aí a ordem é seguir direto (o que seria desmentido logo, logo). Ali não havia problema pois era um dos fins da linha, que tem vários ramais com trajetos diferentes.

Uma hora e meia depois de haver saído do hostel estava sentado num confortável veículo com ar-condicionado rumo a La Plata, enfim. Para cruzar os 55 km de distância, você tem aproximadamente 1h30 à 2h para apreciar a paisagem. Pode não ser muito bonita no começo, logo na saída da capital, ao passar sobre o poluído Riachuelo e pela sempre fumegante zona industrial de Avellaneda. Mais aos poucos a paisagem rural vai tomando conta e, se você não tiver tempo de ir para o interior, vai poder ainda assim ver um pouco da Pampa argentina, aquelas extensas planícies sem fim.

Chegando ao meu destino, a primeira coisa que impressiona é a organização da cidade, formada quadras paralelas atravessadas por algumas avenidas diagonais. Quanto aos nomes das ruas, esqueça as homenagens a políticos, santos, celebridades ou pessoas que você nem sabe porque razão são colocadas no mapa da cidade. Ali, para facilitar, cada via recebe um número. Ou seja, se você estiver na rua 5, tem na paralela atrás de você a 4 e, por conseqüência, a 6 adiante. Até para os mais desorientados, é difícil se perder em La Plata.

Ruas paralelas e diagonais formam o mapa da cidade


A Rodoviária fica na rua 4 com a 42. La Plata é uma cidade para ser conhecida a pé. Até chegar às atrações principais da cidade, no centro, pude aproveitar a caminhada para ver um pouco do cotidiano desse município de 600 mil habitantes, muitos deles estudantes, o que dá um ar juvenil ao local. Aliás, nesta cidade nasceu a atual presidente da Argentina, Cristina Kirchner e foi na Universidad Nacional de La Plata que ela se formou em direito em 1979.

Rua 54


Cheguei a Praça San Martín, na rua 7 entre a 50 e a 54, onde está a Casa de Governo da Província de Buenos Aires. O local estava tomado por manifestantes. À esquerda da praça, na rua 50, há um centro cultural que vale uma rápida visita.

Plaza Moreno


Segui o meu passeio pela rua 54, um caminho tão arborizado que parece um túnel verde. Ao chegar à rua 12, encontrei outra importante praça da cidade, Moreno, na qual se localizam o Palácio Municipal e a Catedral Inmaculada Concepción, que impressiona pelo tamanho em meio a toda aquela planície. A partir daí, fiz meu caminho de volta à Rodoviária pela rua 50, praticamente um grande centro comercial.

Catedral de La Plata


Para evitar os problemas da ida, fui direto ao terminal de ônibus. Havia uma fila gigante para comprar a passagem a Buenos Aires e outra maior ainda para pegar o ônibus. Tanto que foi necessário esperar que três partissem antes de poder, enfim, começar a volta.

Saímos com poucos lugares vazios, tomados logo nas primeiras paradas. Para minha surpresa, o ônibus continuou parando e muita gente ficou em pé durante todo o trecho, contrariando o que o “simpático” fiscal havia me dito na ida. Tive até a impressão de que o motorista escolhia as paradas, deixando muita gente pelo caminho. Bom, nem tudo poderia ser tão organizado em La Plata.

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