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terça-feira, janeiro 27, 2009

O mistério do Samba

(Documentário, Brasil, 2008. Direção de Carolina Jabor e Lula Buarque de Hollanda)

O silêncio nos créditos iniciais do documentário "O Mistério do Samba". Afinal, num filme sobre a Velha Guarda da Portela o que você espera é uma batucada já de cara. Claro que o ausência de som é rompida rapidamente, com as primeiras imagens que vão revelando o cenário e algumas das pessoas que serão apresentadas ao longo do filme.


O bonito de "O Mistério..." está no importante registro histórico que faz resgatando antigos sambas de integrantes da escola de samba, num trabalho iniciado na década de 70 por Paulinho da Viola e complementado por Marisa Monte nos últimos dez anos. Ambos participam do filme, ele com seus depoimentos e ela pelas conversas com integrantes da escola e a caça a relíquias escondidas nas casas do bairro de Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro. Algumas músicas se perderam, como mostra o relato da viúva de Manacea, que emprestou o caderno com as composições dele a um repórter, que nunca mais devolveu. (quem será que foi o colega?)

O samba merece valorização. Mas esse samba tradicional, não as coisas que fizeram depois e que desvirtuaram totalmente um estilo musical original, com história, e de composições feitas com envolvimento emocional, e não apenas seguindo um modelo comercial pré-determinado. Falando em modelos, o próprio Carnaval está ficando assim, deixando de ser algo da comunidade. Por alguns mil reais, qualquer um pode desfilar.

O filme mostra uma época anterior a isso, quando o envolvimento da comunidade era maior, com o presidente da escola passando de casa em casa para buscar apoio e crianças para participarem do desfile.

Passam pela tela, entre outros, Jair do Cavaquinho, que começou a praticar tocando em uma tábua com fios de arame, seu Argemiro, que se descobriu compositor aos 56 anos de idade, Monarco, Casemiro da Cuíca... De todos os relatos, como existe sempre a tendência de se guardar na memória aquilo que não presta, fica o depoimento de um caso envolvendo Zeca Pagodinho e seu Argemiro, falecido em 2003, durante as gravações.

"O Argemiro é o velho mais safado que tem na Portela. Um dia estava com duas meninas e decidimos passar lá na casa dele para almoçar, já que ele morava sozinho. Levamos carne, salada, elas prepararam tudo, deram comida na boquinha dele e, quando terminou, fui me despedir. 'Tchau, seu Argemiro". Ele me respondeu 'Tchau, nada. Manda as piranha lavar a louça'. 'Pô, seu Argemiro, não fala assim das meninas, elas fizeram tudo, te deram comida na boquinha'. 'Eu não pedi porra nenhuma disso, manda as piranha lavar a louça'. E as duas foram bem faceiras dizendo como ele era engraçadinho"

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