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quinta-feira, maio 21, 2009

Os descendentes não mudaram

Fui até a Assembleia nessa quarta, Dia da Etnia Italiana, acompanhar o seminário “Cultura e Desenvolvimento: o Papel da Imigração Italiana na Formação do Rio Grande do Sul”. O resumo da pesquisa dos professores Gabriele Pollini e Renzo Gubert, da Università degli Studi di Trento, concluiu algo que, observando minha mãe, já desconfiava há algum tempo: apesar da distância geográfica e de tempo, os valores dos imigrantes continua bem semelhante a de quem ficou (e quem tem uma mamma entende o que estou falando).

O estudo, realizado junto a Universidade de Caxias do Sul, tinha como objetivo identificar a contribuição dos imigrantes italianos no RS. Para tanto, foram entrevistados cerca de 2.480 pessoas na região de Caxias do Sul.

Segundo a pesquisa, está área possui um modelo de desenvolvimento muito parecido ao da chamada “Terceira Itália”, que abrange as áreas do nordeste italiano (Veneto, Trentino, Friuli e Emiglia-Romagna). Nesses locais, o crescimento aconteceu com a manutenção de valores tradicionais, como a família, a religiosidade e a solidariedade (algo que, segundo os pesquisadores, é válido também para as regiões de colonização alemã). É o contrário do que defendem alguns estudiosos do desenvolvimento, para os quais ele só pode acontecer a partir do rompimento com esses fatores.

Dos dados da pesquisa:

- a maioria dos pais ensina aos filhos os valores do trabalho. A importância da riqueza estava entre os últimos fatores;
- 80% vão à missa aos domingos;
- a maioria se sacrificaria pelos filhos, e tem como valor mais importante educá-los;
- o trabalho tem o objetivo de manter a família e, em segundo lugar, sentir-se útil. Ficar rico aparece em último;
- um terço participa de alguma associação no tempo livre;
- dois terços passam o tempo livre com a família;
- em média, teriam em torno de 16 pessoas às quais poderiam pedir auxílio entre 20 e 50 euros;
- acreditam que a Igreja deve interferir na vida social e política (diferente da Itália, onde acreditam que a Igreja deve cuidar apenas da religião)
- 85% dos bisavós eram agricultores. Hoje, apenas dos entrevistados trabalham com agricultura;
- dos filhos de pais de descendência italiana, em vinte anos, 74% se casaram com pessoas de mesma origem;
- as faltas éticas mais graves: adultério, aborto, não prestar socorro em acidentes de trânsito e roubar. Corrupção e sonegação de imposto são considerados com um nível baixo de gravidade;
- se passam por dificuldade, procuram superá-la de forma racional, dentro dos valores morais;
- o sucesso é devido ao empenho pessoal.

Este quadro muda quando são analisados os resultados das respostas dos jovens, em separado. Para eles, o trabalho é para fazer riqueza e serve para ascensão social. Ou seja, a individualidade passa a ser mais forte. Além disso, reconhecem a importância da religiosidade, mas poucos são praticantes.

Essas diferenças de pensamento, para Pollini, geram três hipóteses para o futuro. Na primeira, os valores tradicionais vão sumir, uma vez que tudo nesse mundo muda. Na segunda, os valores ficaram restritos a pequenos grupos. Por último, sofreriam adaptações e co-existiriam com as mudanças atuais.

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