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sexta-feira, julho 03, 2009

Buenos Aires: entre eleições e gripe

A viagem não estava planejada. De última hora, apareceu a oportunidade de voltar a Buenos Aires. Desta vez, muito bem acompanhado. Em três dias, tudo organizado e, de repente, a dúvida. Os casos da gripe H1N1 estavam aumentando sem controle na Argentina. Os primeiros casos começavam a aparecer no Rio Grande do Sul, todos provenientes do país vizinho. O Ministro da Saúde pedia para que viagens para lá fossem canceladas.


Mesmo assim, partimos na quinta com meia-dúzia de máscaras na mochila. Se muita gente estivesse usando, colocaríamos também. Senão, não haveria porque passar por fiasquentos com aquele pano branco na boca. No aeroporto aqui, apenas alguns passageiros de mais idade e um jovem casal as utilizavam. Não era o caso dos funcionários do local ou dos policiais federais na área de embarque.

Dentro do avião, a primeira surpresa. O 737-800 da Gol, com capacidade para cerca de 190 passageiros, levava para a capital argentina no máximo 50. Não me lembro de um voo tão vazio.

Chegando em Ezeiza, a mão coçou para tirar a máscara da mochila. Entretanto, outra vez, poucas pessoas no salão da imigração e quase nenhum dos funcionários do aeroporto usava a proteção. Viajantes desembarcados de um voo da Air France que chegou ao mesmo tempo que o nosso olhavam surpresos sem entender os porquês de tantos mascarados. "E isso adianta alguma coisa?", deu para ouvir entre eles. "Nada", respondeu o outro.

Avenida de Mayo, centro da capital

As únicas orientações que recebemos eram lavar as mãos com frequência, de preferência com alcool-gel, e evitar esfregá-las na boca, nariz ou olhos. Ao tossir ou espirrar, direcionar a face para o próprio dorso e levar ao rosto um lenço descartável. Na falta de um, usar a manga da blusa.

No centro da cidade, você até esquecia da gripe. Só lembrava quando entrava no metrô (todo subterrâneo) ou nos ônibus, que nessa época circulam com as janelas fechadas. Mas, mesmo assim, não havia uma pessoa com proteção.

Na fila do caixa em uma livraria, um senhor me comenta que não entendi o porquê da recomendação aos brasileiros para não viajarem a Buenos Aires por causa da gripe. E continuou, me explicando que o problema maior estava nas províncias, não na capital.

Saída da estação Delta do Tren de la Costa, em Tigre, ao norte de Buenos Aires. Cadê as máscaras?

Então, paranoia dos brasileiros ou igenuidade deles?

Na verdade, eu acredito em exagero pelo nosso lado e falta de informação entre os portenhos.

Explico. No domingo, dia 28, aconteceram as eleições legislativas. E, assim como no Brasil, quando tem eleições, os políticos esquecem do povo e só pensam em como manter seu poder ou tomá-lo dos outros. Os Kirchner concentraram os esforços em tentar garantir a maioria no Congresso e a questão da saúde pública ficou de lado. Os avisos da Ministra da Saúde foram ignorados, como se sabe agora. Afinal, pensando como um político, assumir que havia uma calamidade poderia estragar os planos do casal no poder.

E o país começou a semana com a notícia da derrota de Kirchner. O governo perdeu a maioria no Congresso e corre grande risco de perder também o principal posto do país no pleito que acontecerá em dois anos. As manchetes dos jornais destacavam fotos de um cabisbaixo Néstor Kirchner e títulos como "Dura derrota", "Perdeu" chegando até a "O fim do kirchnerismo".

Capa do "Crítica de la Argentina" de segunda, dia 29. Precisa escrever algo mais?

Só agora, passada a votação, começaram as ações. A Ministra da Saúde, enfraquecida, renunciou. O prefeito de Buenos Aires, Maurício Macri (ex-presidente do Boca Juniors entre 1995 e 2007), decreta emergência sanitária na capital e destina verbas para o combate da gripe. Uma ação fundamental, mas que tem outras intenções, uma vez que Macri, rival dos Kirchner, pensa na presidência do país em 2011.

Sem o tema político, a mídia passou a tratar mais sobre a doença. O "Crítica de la Argentina" de hoje (3/7), tem a informação que, enquanto o governo divulgava na sexta um total de 1.587 casos, o número verdadeiro seria mais de 100 mil! A população agora se alerta para o tema. As máscaras, que em abril custavam 0,80 pesos, são encontradas agora por 7 pesos cada!

Casa Rosada, sede da presidência argentina. Pensando nela, os políticos de lá esqueceram de pensar na saúde do povo.

Para a volta, no dia 30, resolvemos no aeroporto colocar a proteção. É bastante incômoda, pois o calor da respiração fica concentrado na área fechada pela máscara. O papel começa a ficar úmido e, por isso, a cada duas horas é preciso trocá-la. Não foi necessário, pois já estávamos em casa quando esse prazo passou.

Agora tem o prazo de sete dias para se manifestar algum sintoma, o que não aconteceu até agora e tenho certeza que não vai acontecer. Mas achei curioso, nesses dois dias após o retorno, que tem mais gente tossindo e espirrando dentro dos ônibus aqui de Porto Alegre do que lá.

Mais sobre a viagem nos próximos posts. Mas quem cancelou a viagem por causa das ameaças de doença, perdeu ótimos dias às margens do Rio de la Plata.

Ponto final

Hoje é aniversário da minha loirinha linda! Tá fazendo um quarto de século hoje! Pena que não vai dar para comemorar junto, porque ela tá em férias na casa dos pais, a mais de 500km de Porto...

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