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terça-feira, março 13, 2007

Da Itália nós partimos
Partimos com nossa honra
Trinta e seis dias de navio a vapor
E à América nós chegamos (...)
Não encontraram palha ou feno
E sobre o chão nu dormiram
Como os animais quando vão descansar


Carta de um imigrante

São Sepé, Estado do Rio Grande do Sul, Brasil, 5/5/52

S. Sebastiano/Folgaria
Prov. Trento – Italia
Dna Lina R Cruel,

Querida prima,

A tanto tempo recebemos a sua carta do dia 13/1/52.

Recebi a carta de Manuele, de Gostino e de Luice, perguntado a nossos primos sobre vir ao Brasil, que no Brasil as condições de vida são muito melhores que na Itália, e por isso vejo a sua vida e o quanto difícil está viver aí. Querida prima, eu vivo bem mas sou pobre, porque sou um homem sem trabalho. Mas quem trabalha se arranja bem.

Prima Lina, se eu fosse rico, seria um prazer ir à Itália e encontrar todos meus parentes aí, mas meus recursos não me permitem. A pouco recebi a carta do sacerdote Olinto Cuel, junto a de Manuele, para que enviasse a uma família vinda da Itália. Mas não consegui falar pessoalmente com essa família porque moram longe desta minha cidade.

Prima Lina, entreguei seu endereço a meus irmãos e também a alguns de nossos primos, filhos da tia Terezina. Por isso, aqueles que me pediram acho que vão lhe escrever.

Para terminar, estamos todos bem graças ao bom Deus, e assim esperamos que estejam vocês também. Muito obrigado, tantas saudações e abraços. Continue escrevendo.

Cordial saudação.
N. M.
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O trecho da carta acima é a tradução da original, enviada em 1952, e que faz parte das pesquisas de minha tia para o livro da família, cuja escrita cabe a mim. As condições da chegada no Brasil no meio do século XIX (E sobre o chão nu dormiram, como os animais) podem dar uma idéia de como estava a Itália à época. Assim como no pós-guerra, quando os primos do autor da carta definem o Brasil como “de condições de vida muito melhores que na Itália".

E dizer que nosso país já foi o paraíso. Porque, à época, as pessoas acreditavam e batalhavam por uma coisa que está clara na carta, mas anda esquecida nas mentes atuais que querem ganhar tudo de barbada:
"Quem trabalha se arranja bem".

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