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quinta-feira, abril 19, 2007

Reflexões de um trago
Calma, não foi meu. Não mudei tanto assim. E tampouco aconteceu com uma pessoa que conheço.

A história chegou até mim dois dias depois do fato. Aproveitando o início do final de semana, uma turma foi “fazer festa”, ou seja, encher a cara em algum boteco por aí. Depois de tomar todas, rir por nada, falar alto e gastar dinheiro dos pais, tomaram o rumo da casa de um dos amigos, onde passariam o resto da noite.

Todos acomodados, dormiram. Eis que lá pelas tantas um dos caras acorda com aquela incontrolável vontade de ir ao banheiro. Conseqüência da bebida, vocês sabem. Saiu da cama e, meio sonâmbulo, tomou o rumo para atender ao chamado da natureza.

No entanto, ao contrário do que pensava, havia entrado no quarto de uma guria de 15 anos, irmã mais nova do seu amigo. Pensando ter em mãos a tampa do vaso, levantou o colchão da cama da guria e foi ali mesmo que aliviou sua vontade. É claro que o barulho fez a menina acordar e, obviamente, sair gritando.

Nisso chegou o proprietário da casa. Que reação teria um pai ao ver um estranho no quarto da sua menininha praticamente pelado? À distância, no escuro, é difícil ver o que está fazendo, mas os gritos são um indício que algo não estava bem. Por sorte, esse pai tinha a cabeça mais fria e conseguiu distinguir a situação e apenas passou um pito no bêbado, quando muitos já teriam cortado o mal pela raiz. “Onde já se viu! Não sabe beber, olha a bagunça que tá fazendo!”

Sem entender o que estava acontecendo (deveria estar pensando se estava molhando a tampa...), simplesmente baixou o colchão, se virou em direção à parede e continuou ali o trabalho inacabado. Conversando com uma amiga, na manhã seguinte, ainda teria dito que se lembrava de ter sido acordado pelos berros do pai do amigo, sem entender o porquê de tanta raiva.


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E nessas horas me pergunto: qual é a moral de beber tanto? Já ouvi gente dizendo que fazer festa sem beber não é festa. Afinal, se sai na noite para se divertir, curtir uma boa música (fato raro), conhecer gente, ou apenas para meter trago goela abaixo? As coisas estão se invertendo...

Alguns me dizem que “deixa mais alegre”. Outros afirmam que “fica mais fácil de chegar nas gurias”. Mas não dá pra fazer isso de cara limpa? Há ainda aqueles que te questionam por não beber, como se fosse um ser de outro mundo, questionam até sobre a sua religião e sua masculinidade. Muitos não se dão por satisfeitos e chegar a ficar emburrados por você não “compartilhar” aquele ritual.

Entretanto, sempre me indago sobre onde está a diversão em acordar mal, em um lugar estranho, com uma pessoa que você nunca viu na vida? Ou, então, o que tem de divertido passar um dia inteiro vomitando, com dor-de-cabeça e dor por tudo?

Este texto não é um ato de desagravo aos que bebem. Por mais que faça esses questionamentos sobre a bebida, respeito quem a consome, independente da quantidade. E até comecei a descobrir, de uns seis meses para cá, que um vinho, no momento certo e na quantidade adequada, vai muito bem, ainda mais com uma boa companhia.

Acredito que não seja algo exclusivo de Porto Alegre, mas anos de trabalho da geração dos nossos pais estão sendo colocados fora em roupas de marca, modinhas, som para carros, tunning, bebidas, passeios na Padre Chagas ou na Cidade Baixa por um bando de irresponsáveis entre 16 e 25 anos. Pior: é gente que se acha dono do próprio nariz. Mas não se dão por conta que não conseguem tirá-lo de dentro da carteira dos velhos.

Conheço muita gente que já poderia estar aposentada, aproveitando o merecido descanso após tantos anos de serviço, mas que não podem parar de trabalhar por causa dos gastos supérfluos das "crianças".

Faz lembrar uma tirinha do Radicci, desenhada pelo Iotti, na qual o filho, Guilhermino, brada aos quatro ventos: “Chega! Basta dessa ditadura familiar! Tô caindo fora! Agora sou mais eu!”. E, no outro quadrinho, se vira para os pais: “Bah, tem como adiantar a mesada?”

Nada que não se repita em milhares de lares porto-alegrenses no final de semana.

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