Futebol e fantasmas no Estádio Nacional
Caminhava em direção ao estádio pela avenida Grécia quando, próximo às ruas Campo de Deportes e Maratón, ouvi um forte grito.
Chi...
Depois, o silêncio, que seria interrompido dois passos depois por um...
le...
Para logo explodir em uma forte vibração conjunta:
Chi, chi, chi...
le, le, le...
Viva Chile!
le, le, le...
Viva Chile!
Era a primeira das 325 vezes que, naquela tarde-noite de 17 de outubro, escutaria este grito de guerra no Estádio Nacional, em Santiago. Ali, Chile e Peru se enfrentaram pelas Eliminatórias da Copa do Mundo de 2010. Como cheguei cedo, mesmo com todos os ingressos vendidos, não tive problemas para entrar na platéia Andes Baja Norte, fila 6, assento 53, bem em frente à linha de fundo.
Aproveitei para dar uma caminhada pelo estádio, cuja história vai muito além de um simples campo de futebol. Durante o período da ditadura chilena, o regime manteve milhares de presos políticos, que eram torturados e até mortos.
Presos políticos no Estádio Nacional na época do regime militar no Chile
Decidi caminhar pelas largas galerias embaixo das arquibancadas. Enquanto observava o bar que oferecia bebidas, hambúrgueres e outras guloseimas, não tinha como não pensar nas histórias de tantas pessoas que para ali foram e não mais saíram (inclusive brasileiros). Casos como o do cantor chileno Victor Jara (que hoje dá nome ao estádio) que teve as duas mãos decepadas para depois ser brutalmente espancado até a morte.
Chilenos no aquecimento. Não, não invadi o campo, apenas coloquei a câmera num espaço da cerca...
Voltei para o meu lugar, pois faltava pouco para começar o jogo. As duas seleções entraram em campo e a torcida chilena fez uma bela festa, principalmente ao cantar, a toda voz, o hino nacional, em especial os últimos versos:
Que o la tumba serás de los libres,
o el asilo contra la opresión.
o el asilo contra la opresión.
Estádio cheio, seleções organizadas, bola no centro de campo, às 19h10 começou a partida. A torcida apoiava.
Vamos, vamos chilenos
que esta noche tenemos que ganar
que esta noche tenemos que ganar
Mais que um grito de apoio, era quase uma ordem. Derrotado no primeiro jogo por 2 a 0 contra a Argentina, o esquadrão chileno estava obrigado a vencer para não complicar, já no início, suas chances de ir ao mundial da África do Sul em 2010. Por isso, partiu cedo ao ataque.
Aos 12 minutos, escanteio para o Chile, bem na minha frente. Tirei a foto acima, de Matías Fernández (14) se preparando para cobrar. Ligeiro passei a câmera para o modo “Filme” e...
Que festa! O que se via ao redor era o alívio da torcida pelo gol de Humberto Suazo (conhecido como “Chupete”), por ter saído tão cedo. E seguiram apoiando a “La Roja” (“A vermelha”), como a seleção é chamada, provocando os visitantes.
ô, ô, ô, ô... ô, ô, ô, ô...
¡y quién no salta es un peruano maricón!
¡y quién no salta es un peruano maricón!
No mais, foi uma partida tranqüila. No início do segundo tempo, o Chile ampliou o marcador, numa bela jogada de Arturo Vidal que resultou no gol de Matías Fernández. Mas nota-se que a seleção chilena tem sérios problemas, e seu técnico, o argentino Marcelo “El Loco” Bielsa vai ter que fazer milagre para levar a “Seleção de Todos” à Copa. A zaga é fraca, o goleiro não passa confiança, o meio é pouco criativo e não consegue fazer a ligação com o ataque, zona de maior qualidade da equipe, graças a Suazo e o veterano Marcelo Salas. Para piorar, jogadores de qualidade como David Pizarro (da Roma) e Jorge “El Mago” Valdivia (do Palmeiras) estão afastados da equipe. O primeiro por vontade própria e o segundo por indisciplina durante a última Copa América.
Mas pela festa dos quase 60 mil presentes no estádio, o importante era curtir a ilusão que, sim, se pode. Era o que se ouvia após o final da partida, junto a outros gritos como o “Chi, chi, chi... le, le, le...”, claro.
Ponto final
Fugindo um pouco do tema da viagem, mas ainda sobre futebol. Os irmãos Wayans (Damon, Marlon, Keenen e Shawn) são conhecidos pelos seus filmes de comédia (como “As Branquelas” e “O pequenino”) e a participação em seriados de TV (“Eu, a patroa e as crianças”). O que não se sabia é que o pai Wayans andou aprontando no Brasil também, deixando mais um irmão por aqui: o goleiro Felipe, do Corinthians.
Marlon, Shawn, Felipe e Damon...
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