.....................

sábado, maio 17, 2008

O crime do machado

Corria o ano de 1964. Militares eram vistos por todos os lados, nas primeiras ações que determinariam o futuro do país nos próximos vinte anos. Meu avô estava a bordo de um caminhão, junto ao seu irmão, vendendo uma carga de batatas pelo interior do Rio Grande do Sul.

Chegaram a localidade de Cruzeiro, próxima de Santa Rosa, noroeste do Estado. Após negociarem com um comerciante local, ele sugeriu que os recém-chegados passassem pelo estúdio fotográfico para ver um fato havia abalado a região 15 dias antes.

Havia naquelas bandas um casal que vivia muito bem. Ele era um produtor rural e proprietário de terras. Ela, dona-de-casa. O casamento corria bem até o momento em que ela arrumou um amante. Ou melhor, como diz meu avô, “ela se perdeu e arrumou um amante”. Com o passar do tempo, começou a se distanciar cada vez mais do marido. O divórcio foi inevitável. Ainda assim, continuaram morando na mesma casa, dormindo em quartos diferentes.


O esposo era visto como um homem bom na comunidade, que zelava pela família e amava seus filhos. No entanto, a mulher e o amante decidiram dar fim à vida dele. Em uma noite, entraram na casa. Uma lanterna iluminava a vítima enquanto a mulher registrava com uma máquina fotográfica os golpes de machado dados pelo atual companheiro. Depois, ensacaram o corpo e colocaram dentro do carro, levando até o rio Uruguai, onde atiraram o cadáver. Foram estas as imagens que meu vô e seu irmão viram no estúdio, ao lado de outros registros de casamentos, crianças e famílias.

Saíram de Cruzeiro e foram a Porto Mauá, onde decidiram almoçar, por mais que meu vô garanta que, depois daquele fato, não tinha fome. Chegaram a um restaurante com vista para o rio Uruguai. A senhora que os atendeu vestia preto. Bastante atenciosa, buscou saber mais sobre os viajantes e, nessa rápida conversa, meu vô decidiu comentar o caso de Cruzeiro. Enquanto falava, as lágrimas corriam pela face da atendente. “Vocês sabem quem ele era?” - interrogou. “A vítima era meu filho.”, revelou. “Eles não precisavam fazer aquilo. Se eles queriam terra, era só pedir, que ele daria.”

Os viajantes se desculparam, comeram, e seguiram seu caminho. Mas ainda hoje meu vô recorda bem a foto que mais o marcou. Era a do exato momento em que o machado rachava a cabeça da vítima.

2 comentários:

Anônimo disse...

Cara, chegou a dar medo isso! hehehe. Mas se for ver, crimes assim ainda continuam acontecendo. Não viu a história da mulher que caiu do 13° andar aqui em POA? E se não me engano, em SP um cara caiu do 5° andar, com 4 tiros. Definitivamente, a humanidade não evolui.

Unknown disse...

Que legal que tu continuas esacrevendoooo...
Tá bom, tá bom, vou me inspirar e tirar as teias de aranha dos meus blogs...
saudade muita de ti...
manda notícias ?
bjo
ruiva