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sábado, setembro 20, 2008

Quando uma carroça parou uma capital

Eram quase quatro e meia da tarde do dia 17 de setembro. Um pouco depois da ponte do Guaíba, este cartão-postal de Porto Alegre, uma carroça transita ao ritmo do cavalo pela rodovia federal que liga a capital a região sul do Estado. Um caminhão se aproxima e é obrigado a desviar de forma brusca do inesperado obstáculo. O movimento não é exitoso e o choque com outros dois caminhões acontece. Pior, a estrada é obstruída. Niguém passa.

Rapidamente as vias de acesso à ponte começam a ficar bloqueadas pela grande quantidade de veículos que não conseguem ultrapassá-la. Até o guincho, chamado para retirar os acidentados e liberar a pista, leva um tempo absurdo para chegar ao local. Sucessivamente, os engarrafamentos vão se somando, devido a chegada do horário de final de expediente, e as rádios anunciam que as avenidas Sertório, Farrapos, Borges de Medeiros, Beira Rio, as vias de saída do centro e até a Ipiranga, a Bento Gonçalves e as estradas da região metropolitana estão com trânsito congestionado.

Ou seja, o tráfego da capital gaúcha praticamente parou. Três horas após a liberação da ponte, um trajeto que se faz em 15 minutos levou uma hora e meia para ser cumprido.

Tudo porque o porto-alegrense é, antes de tudo, um solidário. Se há um problema no trânsito, ele se esforça para que toda a cidade sinta o mesmo. Ao longo do caminho, um festival de barbeiragens: gente se atravessando nas esquinas, em sinais fechados, cruzamentos trancados, entrando pela contramão. Um grande número de outros acidentes só não acontece por milagre.

E tudo por causa de uma carroça. Milhares de pessoas presas em carros e ônibus, outras tantas chegaram atrasadas a compromissos, perderam ônibus e vôos, tudo por causa de um carroceiro.

Ponto final

Neste 20 de setembro, data máxima dos gaúchos, esta história me faz lembrar uma estrofe do nosso hino: “Sirvam nossas façanhas / De modelo à toda terra!”. É inexplicável que uma capital ainda tenha este fenômeno de veículos de tração animal, mais de cem anos após a invenção do automóvel. Mas persistem as carroças nas vias principais da cidade nos horários de pico, com crianças guiando os cavalos, sem respeitar quaisquer regras. Tudo pela incapacidade de uma seqüência de governos municipais encontrarem uma saída viável aos usuários deste meio, que não pode ser chamado de transporte.

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