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terça-feira, setembro 23, 2008

Na sala escura...
“Meu irmão é filho único”

Como já estava no Centro e tinha a tarde livre, dei uma olhada no Correio para ver as opções do cinema. Por sorte, a Casa de Cultura Mario Quintana estava com um filme que me interessou: “Meu irmão é filho único”, de Daniele Luchetti.

Por ser um filme italiano, queria aproveitar para dar uma praticada na língua. Mas como a história se passa em Latina (cidade vizinha a Roma), o sotaque romanesco era tão forte que dificultou.

O filme começa com a partida de Antonio Benassi (conhecido como Accio, ou seja, que pode ser traduzido como “pessoa má”, num sentido familiar, ou como um sufixo, dando o sentido de "o pior"), em 1962, para um seminário. Apenas o irmão mais velho, Manrico, acompanha a despedida, de longe. Accio foi criado em uma família italiana típica, marcada pela força da mãe e a debilidade do pai diante desse poder matriarcal. Os Benassi vivem em uma casa caindo aos pedaços, mas têm a promessa do governo de que logo receberão um novo lar.

Impressiona o rigor com que Accio se dedica às suas atividades. No seminário, quando comete alguma falta, não se satisfaz com punições pequenas. Ao perceber a falta de rigor, deixa o seminário e volta para casa. Da mesma forma ele vai aos extremos quando entra ao partido fascista e, posteriormente, ao movimento comunista italiano.

Foto: Divulgação site

O filme tem grande valor por mostrar uma Itália ainda em recuperação após o desastre da 2ª Guerra Mundial. Após um período de grande euforia e crescimento na década de 50, com a intensa injeção de capital norte-americano no país, a Itália volta à estagnação durante o período da Guerra Fria, intensificando o conflito contra um crescente comunismo (briga esta causada pela forte influência católica no país) e vendo o ressurgimento do movimento fascista (assim como o Collor voltou ao Congresso e muitos defendem uma nova ditadura militar no Brasil, na Itália muitos pensavam que os fascistas não tinham sido tão ruins). É feita referência, ainda, ao fenômeno das Brigadas Vermelhas, na década de 70, quando correntes marxistas-leninistas partem para a luta armada. O grupo é marcado pelo sequestro e assassinato do presidente da Democracia Cristã, Aldo Moro, em 1978.

Accio é o próprio retrato da Itália, variando de extremo a extremo, se perdendo em debates e agindo pouco. Por culpa disso, o país ficou estagnado enquanto a Europa se desenvolveu. Como o próprio Accio diz, “todos falam que a gente envelhece e vai ficando melhor. Eu só envelheci e nada mais”.

Ponto final

A Casa de Cultura precisa de socorro urgente. Comprei o ingresso e, antes de entrar no cinema, a mulher na entrada me avisou, se desculpando várias vezes, que aconteceria um evento do lado de fora durante a sessão e que, por isso, poderia ter barulho dentro da sala.

Não me importava. Adoro aquelas salas de cinema. Foram nelas que conheci a obra de Fellini (o que motivou a voltar a estudar italiano e conhecer a terra natal do diretor), ali vi bons filmes argentinos e clássicos do cinema, ali dormi os melhores sonos nos finais de semana depois de cansativas semanas de estágio e estudos...

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