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quinta-feira, julho 23, 2009

À ópera: Nabucco

Lembrando das férias...

Nunca tinha assistido uma ópera ao vivo. Por isso, me animei ao planejar a viagem para Montevidéu e ver que poderíamos pegar a última noite da temporada de Nabucco no belo Teatro Solis, no dia 11 de junho passado.


Mas a empolgação praticamente terminou quando tentamos comprar os ingressos em um posto de vendas no Chuy, na fronteira com o Uruguai (e escrevo com “y” porque era do lado uruguaio). O teatro possui um sistema de vendas que permite a compra das entradas através de uma rede de pagamentos presente em quase todo o país. E numa dessas autorizadas fomos informados que só haviam entradas a partir de R$ 120,00, valor que dificultava o nosso objetivo. Seguimos viagem e decidimos tentar ir para o teatro igual e ver se conseguíamos alguma sobra na hora.

Como chegamos a capital uruguaia um pouco tarde, não deu tempo de tomar um banho, sequer mesmo trocar a roupa usada na viagem. Acompanhado pela Tassi e pela mãe, fomos direto ao Solis. O teatro, inaugurado em 1856, impressiona pela a imponência da fachada, a beleza do hall e a riqueza de detalhes em colunas e pinturas que adornam a sala de espetáculos.


Entre homens em seus fraques de corte italiano e mulheres com casacos de pele comprados na França, ali estava eu com minha calça de abrigo cheia de bolinhas e um casaco. Ainda me pergunto como me deixaram entrar lá.

Ao chegarmos na bilheteria, a ótima surpresa. Ainda haviam ingressos para lugares que eles chamam de “Baixa visibilidade”, que por isso só são vendidos no próprio teatro. E assim, por 200 pesos (cerca de R$ 17,00), conseguimos entrar na galeria Paraíso, no último andar, quase pendurados ao lustre. O lugar, descobrimos depois, é chamado de “gallinero”. Dispensa tradução, basta ver a foto abaixo (onde está a seta).


Hoje existem banquetas para sentar, mas antigamente as pessoas ficavam em pé, se debruçando para tentar ver o palco. A vista que tínhamos era essa:


Pouco depois de tomarmos nossos lugares, abriram-se as cortinas e começou o espetáculo. Os primeiros vocais impressionam, ajudados pela acústica do teatro. É difícil acreditar que é a voz daquelas pessoas e não uma gravação.

Nabucco é a terceira ópera de Giuseppe Verdi. A estreia aconteceu em 9 de março de 1842, no Teatro alla Scala, em Milão. A história se passa em Jerusalém e Babilônia, entre 587 e 586 aC. Em quatro atos, narra a luta dos hebreus para se livrar da invasão do rei da Babilônia, Nabucodonosor, e, em paralelo, as disputas pelo poder no reino, com a gananciosa Abigail buscando a coroa a qualquer custo.

É dessa ópera o coro “Va pensiero” (vídeo abaixo), cantado pelos escravos hebreus como um hino pela liberdade. Esse canto se torna famoso por ser adotado pelos italianos como uma canção de esperança para alcançar a independência do poder austríaco, à época das batalhas pela unificação da Itália.



A “baja visibilidad” do lugar só era percebida quando as ações ocorriam ao fundo do grande palco, impossível de ver. Apesar do cansaço da longa viagem, foi uma experiência sensacional pela qualidade do som, dos cenários, do figurino e, acima de tudo, da atuação e da orquestra no fosso. A reverência feita pela soprano Mónica Ferracani (que interpretou Abigail) ao agradecer os aplausos no encerramento foi de arrepiar.

Ao final, ficou aquele gostinho de “quero mais” e a dúvida sobre quando em Porto Alegre poderemos ver novamente um espetáculo assim. Aí prometo que coloco uma roupa melhor.

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