Cão sem dono
Em tempos em que a individualidade ganha força, pode um ser humano sobreviver sozinho? Entre algumas cenas de sexo, drogas e rock n’ roll, foi essa a pergunta que o filme “Cão sem Dono”, de Beto Brant e Renato Ciasca, me deixou. Diferente de “O Invasor”, outro trabalho de Brant, dessa vez o tom social é deixado de lado pelos questionamentos existenciais.
Ciro (Julio Andrade), o personagem principal, é um recém-formado em Literatura, sem muitas perspectivas. Tem um relacionamento com Marcela (Tainá Müller), uma modelo com ambiciosos planos para o futuro. Além dela, os únicos seres com quem Ciro se comunica é o porteiro do prédio (que lhe ajuda nos momentos de ressaca extrema), seus pais (ainda que o diálogo praticamente não exista no ambiente familiar) e um cachorro, do qual não se considera dono, apenas um amigo.
Fotos: Site do filme
Lendo a sinopse do filme e durante a sessão, me surgiu a dúvida se não poderiam estar ali fragmentos autobiográficos. Afinal, o roteiro é uma adaptação de “Até o dia em que o cão morreu”, romance de estréia de Daniel Galera. Tainá é mulher do escritor e já foi VJ da MTV no Rio Grande do Sul, modelo, assistente de direção até chegar à frente das câmeras. Ou seja, na vida real, também temos um relacionamento entre um autor em princípio de carreira e esta batalhadora jovem de promissora carreira. Por mais que esse seja o único paralelo que se possa traçar, será que a atriz principal não estaria interpretando a si mesma?
Um detalhe que pode passar despercebido para quem não conhece Porto Alegre (cidade onde o filme foi rodado) é que até o lugar onde Ciro mora reforça seu jeito de ser, pessimista e amargo. O prédio no centro da capital gaúcha, quase na esquina da Borges com a Demétrio Ribeiro, é um lugar marcado, infelizmente, pelo abandono e onde, após o anoitecer, poucas pessoas circulam. Ao lado do prédio onde filmaram as cenas do apartamento de Ciro, um edifício que pertencia ao governo estadual foi invadido por sem-tetos e se transformou em uma grande favela vertical. Do outro lado da rua, existe um cinema falido. Este, pelo menos, foi restaurado e se transformará em mais uma cinemateca para a cidade.
Vou deixar a pergunta das primeiras linhas sem resposta. Senão acabo contando o filme... Vale a pena conferir este trabalho da Drama Filmes e Clube Silêncio, produtora gaúcha composta pela nova geração do cinema local, uma turma pós-Casa de Cinema de POA, que tem somado prêmios com seus filmes. Inclusive “Cão sem Dono” já teve reconhecimento no festival de Recife, no final de abril, obtendo o prêmio de melhor filme, especial da crítica, e de melhor atriz para a atuação de Tainá Müller.
“Cão...” estréia dia 11/05 em Porto Alegre. Site: www.caosemdonopoa.com
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