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quarta-feira, junho 13, 2007

"Te vejo todas as manhãs"

“Minha bela crespinha, te vejo às 7h30 no Metrô na direção de São Leopoldo. Passo sempre no vagão onde estás, é fácil reconhecer-me: estou sempre com óculos de sol azul. Queria saber o teu nome. Ass: Cobra”


- Hum... deixa ver se entendi: o senhor quer que eu publique isto no meu jornal?

O editor não podia acreditar que aquilo estava acontecendo. Diante de si uma redação inteira em ebulição e este rapaz com essa proposta. “Como marcaram essa reunião? Disseram que era importante”, pensava.

- É, senhor editor, é que sempre que vejo essa mulher ela está lendo o seu jornal.

- Mas, meu amigo, isto aqui é uma publicação séria, não uma agência de encontros amorosos!

O rapaz não conseguia entender tamanha incompreensão por parte daquele senhor.

- Desculpe, mas acho que o senhor não entendeu a situação. Esta pode ser a mulher da minha vida, a mãe dos meus filhos. Estou apaixonado, sei que ela é o que eu preciso. Mas para poder fazer esse contato vou precisar desse apoio e...

- Meu jovem, acho que não tem nada que eu possa fazer.

- Hei, porque me interrompe? Quando o senhor vai me deixar terminar de falar? Pense bem: da sua decisão vai depender a felicidade de duas pessoas, ou mais! Porque se eu não conhecer essa mulher, nós dois nos casaremos com pessoas que não gostamos, os quatro serão infelizes, imagine os coitados dos nossos filhos! Acabaremos nos divorciando, conheceremos outras pessoas que também não serão ideais. O senhor acha que vai conseguir dormir tranqüilo sabendo disso?

- Entendo, entendo... Mas já que vocês estão sempre no mesmo trem, porque não conversa diretamente com ela?

- Não posso.

- Como assim?

- É difícil explicar. Puxa, o que custa publicar isso aí? Tem tanta tragédia no jornal, esse favor pode até evitar outras. "Desiludido no amor, jovem se atira de ponte". É isso que o senhor quer? Me diga, você já amou alguma vez?

- Já, meu filho, já.

À mente vieram as lembranças do seu período de juventude, das meninas nas reuniões dançantes, e de como era difícil tirá-las para dançar. Também surgiu a imagem daquela morana, por quem até hoje tem sentimentos, mas que deixou escapar por não ter sido capaz de impedí-la de partir para longe.

- Então, senhor editor, sabe como é essa coisa de amor, é incontrolável. Por favor, dê um jeito aí!

À porta já se formava uma fila de jornalistas querendo consultar o chefe.

- Meu caro, não te prometo nada, mas vou ver o que posso fazer, OK?

- Publique, por favor, são poucas linhas e...

- Por favor, vou pensar no que fazer. Obrigado pela visita.

E viu o jovem sair e fazer a volta na sala e, até o perder de vista, ainda podia ler os lábios que diziam “Publique, publique...”. Por fim, chamou um dos responsáveis pela diagramação.

- Veja o que pode fazer com isso...

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Original do jornal City, de Roma, do dia 20 de novembro de 2006

Um comentário:

Piero Barcellos disse...

Tu tá cada dia melhor nisso. Baita texto!