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sexta-feira, julho 20, 2007

Jota, jota, três, zero, cinco, quatro

Era o meu primeiro vôo. Enquanto sentia que o inclinado avião estava deixando o solo, as mãos começavam a suar. Olhava para os lados e não conseguia entender como todos estavam normais. Minha chefe já estava com o laptop aberto, trabalhando. Até a Sarah, assim como eu marinheira de primeira viagem, estava bem tranqüila (ou, ao menos, parecia). Qualquer barulhinho eu já olhava para os lados. Se todos estivessem normais, era um sinal de que estava tudo bem.

Porque guardo tanto papel velho?

Pouco mais de uma hora depois, o cenário de São Paulo começou a surgir. O avião se aproximava cada vez mais da selva de concreto, começando a baixar. Cada vez mais aqueles arranha-céus iam ficando mais perto da janela. Tive a impressão até de ter visto alguém tomando banho de sol em uma daquelas coberturas. Quando pensei que íamos dar de frente em qualquer prédio daqueles, se abre um clarão e imediatamente tocamos o solo. Estávamos no Aeroporto de Congonhas.

Acho que comentei com alguém sobre aquela cena dos prédios crescendo cada vez mais e nada da pista. Com qualquer um que conversava, concordavam comigo sobre a proximidade e os riscos.

Dentro do táxi, o motorista nos apontava, no final do barranco em uma das pontas da pista, um buraco no asfalto. “Estão vendo? Foi bem aqui que ficou aquele avião que derrapou no fim da pista. Parou de bico aqui. Se chega a acertar aquele posto ali...”, disse, se referindo a um acidente em meados de 2003. Infelizmente, na última terça, o lado era o mesmo, mas a sorte não.

Não é minha intenção julgar de quem teria sido a culpa, piloto, pista ou avião. É inaceitável que um aeroporto fique no centro de uma grande metrópole. Não há possibilidade de erros ali, não há área para escapar em caso de falhas. A cidade cresceu ao redor do local, como se pode ver nessa imagem abaixo. Mas quando isso aconteceu era hora de terminar as atividades ali, buscar um novo espaço.


Procurando vídeos de aterrissagem em São Paulo no YouTube, achei este:


Repare, quando faltam 11 segundos para o final, o prédio que surge na tela. Onze segundos antes de baixar. Não há tempo para correções.

Fico tentado a dizer que um novo aeroporto deveria ser construído. Ou até que se ampliasse o aeroporto de Guarulhos, que originalmente seria a solução para o tráfego em Congonhas, que só existe ainda pela comodidade, pela proximidade do centro da capital paulista. Quem desce em Guarulhos tem um longo (e congestionado) caminho de 25km pela frente até os pontos principais da cidade.

Algo que um trem poderia resolver. Ampliando-se Guarulhos, poderia ser construída uma linha rápida de metrô ligando o aeroporto ao centro, com paradas em pontos principais como a Berrini ou a Paulista. Poderia se cobrar uma tarifa de, sei lá, R$ 25, valor abaixo do que se paga para fazer o trajeto hoje em linha executiva. Assim, você tira um táxi ou um ônibus a mais do engarrafamento, e o passageiro chega antes ao destino. Roma tem um serviço assim, o Leonardo Express. Com um intervalo de 30 minutos, sai da estação central da cidade e pára dentro do aeroporto de Fiumicino, cruzando os 32km de distância em meia-hora, por 11 euros (cerca de R$ 29).

Mas ultimamente ando irritado quando penso em obras públicas pela quantidade de dinheiro que seria desviada e pelo resultado porco que teríamos.

Entretanto, Congonhas deu o que tinha para dar. Ou melhor, já deu as tragédias que tinha para dar.

Um comentário:

Piero Barcellos disse...

Se coincidência é válido, vale lembrar que eu passei pela mesma rota do avião da Gol que caiu na floresta.

Pra compensar a tragédia, viu que o ACM morreu? Acho que nada reflete melhor o sentimento do que a tirinha que está no blog dos Malvados hoje.

Abraços!