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segunda-feira, dezembro 10, 2007

João Alberto, jornalista – 1
Tudo tem o seu começo

Olá... o quê? Tenho que me apresentar? Bah, isso parece primeiro dia de aula. Tudo bem, tudo bem. Bom, me chamo João Alberto, jornalista. Nome composto. Estilo. Sim, tenho sobrenome, mas desde o início, na faculdade, adotei esse nome de guerra. É mais sonoro. Às vezes assino apenas as iniciais. J.A. Ou, como digo, “Já”. Dá uma idéia de agilidade, velocidade, aqui, agora, entende?

Além disso, João Alberto é bem geral. Como sou metido a jornalista investigativo, é até mais seguro. A não ser que invadam a redação ou venham me esperar na saída do jornal, é difícil me achar. Só no Google tem 475 mil registros. Nem tente a lista telefônica.

Como comecei a minha carreira? Estágio, meu caro. Óbvio. O primeiro passo da longuíssima escalada profissional. O limite do tratamento humano aceitável. Até a planta da sala do café tem mais direitos que você. Vocês bebem a mesma água, mas ela tem um tempinho para ficar no sol e ver a rua.

Se Dante começou a visita ao inferno pelo primeiro círculo, certo que cruzei por ele quando eu estava de saída, vindo lá de baixo. Falando assim parece um horror, mas é uma experiência pela qual todos precisam passar. A não ser que alguém te aponte e diga “Tu é o cara”. Principalmente se esse alguém for um parente que já atua na área.

Mas como esse não era o meu caso e tampouco eu podia ficar deitado no tal berço esplêndido do Hino Nacional, todos os dias eu estava atento a classificados, sites da Internet, mural da faculdade, conversa de bar ou cochicho em banheiro feminino para ver se aparecia alguma oportunidade. E veio. Depois de trinta dinâmicas de grupo, entrevistas com o chefe do setor, da empresa, da holding e a tia da limpeza, além da leitura de guias na web sobre como se dar bem na frente do inquisidor, consegui. Havia entrado no mercado de trabalho.

Fui para uma assessoria de imprensa. Meus pais achavam que eu ia para a TV direto, então tive que passar alguns meses explicando para eles a minha atividade. Fazer o meio de campo entre uma empresa e os meios de comunicação. “Ah, entendi”, me diziam. Antes que eu pudesse me animar por ter cumprido a missão, soltavam. “É propaganda, então?” Não. E lá íamos nós novamente para horas de explicações.

Meu primeiro dia de trabalho foi animador. Comecei numa segunda-feira. Cheguei 15 minutos antes do horário, mas como não tinha as chaves e o porteiro não me conhecia (e tampouco fez questão de conhecer), tive que esperar meia hora sentado na rua até que chegasse o primeiro colega. Por acaso, naquele dia, ele havia esquecido a chave. Sentados os dois na rua, esperamos o terceiro, o salvador, que nos liberou o acesso.

Era o senhor Ramírez, o chefe, um senhor de larga experiência em redações dos mais importantes jornais, mas que, perto da aposentadoria, decidiu ganhar algum dinheiro com a profissão e, para garantir seu futuro, abriu uma assessoria.

Claro que só tomou essa decisão porque tinha um cliente certo, que pagaria bem. Uma empresa que queria mais visibilidade na mídia. Mas quando eles descobriram que não era publicidade, deram tchau ao senhor Ramírez. Por sorte ele já possuía outras fontes de recursos, uma padaria, um contador e um advogado. As coisas iam tão bem que ele decidiu contratar mais um estagiário. Ali estava eu, pronto para redigir leads de releases, agendar, intermediar ou fazer entrevistas, colocar o cliente em algum veículo a qualquer custo.

Mas comecei um pouco diferente, lambendo selos e colando etiquetas em 300 envelopes que seriam enviados pelos Correios. “Pode não ser o que você estava pensando, mas é bom para se acostumar com o ambiente, conhecer o pessoal”, me disse o senhor Ramírez. Por pessoal ele queria dizer outros dois colegas.

Mas, no fim do dia, parecia que ia me dar uma boa notícia. “Bom, vejo que você é bem determinado. Acredito que dentro de algum tempo você já vai poder mudar de tarefa e começar a fazer a clipagem dos jornais!” Falou com entusiasmo e ficou surpreso por eu não estar sentindo o mesmo. Na verdade, eu estava. Surpreso, claro. Mas já eram sete horas. Eu deveria estar na faculdade há quinze minutos.

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PS: João Alberto é um personagem que não existe, invenção de uma cabeça dormida batendo sobre o balaústre de um ônibus lotado. Por mais que suas histórias possam parecer reais, que culpa tem o autor se a vida imita a ficção, e não o contrário? No fim, vale sempre lembrar: qualquer coincidência é mera semelhança... ou vice-versa... bom, você entendeu: não tente fazer isso em casa. Não se trata de uma ameaça, mas as histórias de J.A. continuam. Aguarde.

Um comentário:

Anônimo disse...

Por acaso o Sr. João Alberto é um cara que eu vi pegando uma mina na janela de um carro em Atlantida?