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quarta-feira, novembro 18, 2009

A Livraria Cultura acabou com a Feira do Livro?

Saiu o balanço da Feira do Livro de Porto Alegre 2009. E o número foi negativo. Uma queda de 16% nas vendas, somando 354.892 exemplares comercializados. É a primeira vez, desde 1997, que este número baixa de 400 mil. Em 2005, a Feira atingiu um ápice, com a venda de 530.978 livros. Desde então entrou em queda livre, edição após edição, como mostra o gráfico abaixo.

Gráfico de vendas da Feira do Livro de Porto Alegre entre 1997 e 2009. Dados da Câmara do Livro divulgados no Correio do Povo nos anos correspondentes.


A Feira do Livro e eu

A Feira mudou bastante nos últimos anos. Lembro que, quando ganhava mesada, juntava uma grana, fazia minha lista de livros e partia para a Praça da Alfândega aproveitar os descontos, enfrentando, sem problemas, o tumulto. Ainda que meu pai insistisse que não valia a pena se outras livrarias ofereciam os mesmos descontos durante o ano.

Uma vez pude comprovar isso. Entre o povo se acotovelando, não achava um livro que estava procurando. Desisti e decidi voltar pra casa. Há alguns passos dali, numa livraria com pouco movimento, achei a obra e consegui um desconto maior que o oferecido na Feira.

Nos outros anos, passei apenas a vasculhar os saldos. Mas eram as mesmas obras que estavam disponíveis nos sebos da General Câmara/Riachuelo durante o ano.

Aí me voltei para a área internacional da Feira, atrás de exemplares originais, não traduzidos. E foi só o que vi dessa vez. E me decepcionei.

Mudanças óbvias e lógicas

O patrono da Feira deste ano, Carlos Urbim, o xerife Júlio La Porta, a Secretária de Cultura do RS, Monica Leal, e Olívio Dutra no encerramento da edição de 2009. (Foto: Romulo Valente/Divulgação Feira do Livro)


A Feira do Livro costumava ser o grande momento da literatura no Estado. Editoras e grandes autores deixavam para lançar livros durante o evento, atraindo o pessoal para conhecer as novas obras. Isso terminou. Faltam novidades interessantes. Os livreiros estão optando pelos lançamentos nas grandes lojas do ramo, com fácil estacionamento e ar-condicionado, acompanhado de comidas e bebidas enquanto o autor autografa sentado confortavelmente.

Essas livrarias, aliás, foram uma das explicações para o insucesso da edição 55 do evento, além das más condições climáticas. Alguém chegou a escrever que as pessoas já não vem mais porque ir até o centro, enfrentar uma multidão, se podem comprar na Livraria Cultura com descontos até maiores que os oferecidos na Praça. Ou então pedir pela Internet e receber em casa, sem muito esforço, conseguindo até livros estrangeiros e obras raras.

Evento precisa assumir novos caminhos

Não acho que a Cultura ou a Internet tenham acabado com o status do evento. Faltam diferenciais para motivar as pessoas a esperarem até novembro para comprar seus livros na Praça. Porque não desenvolver um selo para colar no verso da capa das obras vendidas com o escrito “Este livro foi comprado na 55ª Feira do Livro de Porto Alegre”? Vai dar um valor diferente para aquela obra. Servirá como uma lembrança. Aquele livro não saiu de uma loja qualquer. Veio da maior feira de livros a céu aberto da América Latina.

Minha idéia de selo para a Feira. Colocando no livro, vai servir como lembrança do evento.


Mas é óbvio que, se os livreiros quiserem aumentar as vendas, vão ter que aumentar os descontos. Se isso significar uma queda no número de expositores, acredito que não será ruim. Hoje temos, sei lá, mil bancas que vendem os mesmos livros. Se esse número cair pela metade, não vai fazer diferença. Serão quinhentas bancas vendendo livros iguais. O aspecto positivo será o maior espaço para o público circular.

Público na Feira neste ano. Muita gente circulando, muita gente parada na frente das bancas e queda nas vendas. (Foto: Bruno Alencastro/Divulgação Feira do Livro)


O maior equívoco nestas análises da Feira está em ver o sucesso do evento pelo número de vendas. A Feira do Livro deixou de ser um evento de vendas. Passou a ser uma opção de passeio e uma grande festa para colocar a literatura em destaque. E não há nada de errado nisso, porque estimula a leitura. Se os livros da moda são os mais vendidos, não importa. O importante é que muitos dos que leem essas obras vão tomar o gosto por ler e passarão a ir atrás de escritores melhores. Mas o mais vendido em “Não-ficção” ser um livro de receitas, é brabo!

Um comentário:

Thiago C. Brum disse...

Du, já passou o tempo em que era legal ir na Feira. Faz alguns anos que eu vou lá e nos últimos 4 acompanhado da Márcia. Este ano descobrimos a forma ideal de ir na feira: bem cedinho, quando as bancas ainda estão fechadas. Sem tumulto, sem stress, apenas pra passeio.

Não é só o conforto de uma Cultura (da qual somos fã de carteirinha lá em casa junto com o Submarino) que atrapalha a feira. Tá na hora de mudarem um pouco o formato, que nem tu disse. Precisam reciclar a feira, trazer mais atrativos. Tirando as transmissões de rádio e TV e os eventos de autógrafos, a Feira é apenas um local para passear (enquanto as bancas estiverem fechadas pra evitar a multidão).

Belo post!
Abração!